[30-21] [20-11] [10-01]
10. Old – Danny Brown
Gênero: Hip Hop
Louco ou genial? Com “Old”, as perguntas que cercaram Danny Brown em 2011, por conta do sucesso do álbum “XXX”, voltaram a todo vapor. É realmente difícil entender o que se passa pela cabeça do rapper, assim como se torna impossível não se sentir atraído pela insanidade que está relacionada a sua obra. Naturalmente lisérgicas, as composições de Brown são dominadas pela esquizofrenia que engloba a figura do polêmico músico, que sempre procura aparentar despreocupação, e até certo ponto, um pouco de relaxamento… Mas não se deixe enganar pelas aparências: em seu trabalho, Danny Brown não deixa de caprichar.
É impressionante como o aspecto tortuoso pela qual a carreira de Brown é guiada acaba transformando suas obras em registros fundamentais. Mais um capítulo de uma consistente discografia, ou até mesmo o melhor até aqui, “Old” traz a imagem do rapper como uma figura velha, experiente… Uma representação que acaba, no fim, caracterizando o andamento do disco. Mesmo aprofundando-se nos mesmos temas e nas mesmas estruturas chapadas que construíram sua carreira até aqui, Brown fundamenta “Old” em um conjunto altamente consistente de rimas, construídas com cuidado apesar da atmosfera maluca e aparentemente despreocupada do registro.
Batidas velozes, versos “cuspidos”, uma ambientação obscura e a tradicional linguagem crua de Brown vão jorrando pela totalidade do álbum, construindo um resultado que, com a mais preconceituosa das visões, poderia representar um total desastre, mas que, nas mãos do talentoso Danny Brown, torna-se apenas sinônimo de criatividade.
09. MCII – Mikal Cronin
Gênero: Garage Rock
“MCII”, o segundo álbum em carreira solo de Mikal Cronin, é praticamente um tratado de melodias. Construído a partir de uma nova abordagem, que se afasta do conceito que Cronin explorara em seu primeiro disco, o presente registro não é apenas um trabalho capaz de destacar o músico na cena estadunidense, mas representa com louvor as novas possibilidades do garage rock. São as mesmas guitarras, as mesmas entonações e as mesmas temáticas líricas de outrora, só que agora abraçando conjuntos colossais de melodias quentes. Se antes Cronin pautava seu trabalho na exploração de riffs ruidosos, hoje são os rumos melódicos que marcam o tom.
Apoiado em instrumentações elegantes, que esbarram nas festividades do power pop e encontram na música alternativa da primeira metade dos anos noventa uma grande inspiração, “MCII” trabalha, música após música, para prender o ouvinte de forma natural. A acessibilidade é fácil, é verdade, mas Cronin consegue atingir uma sonoridade capaz de agradar o público de massa sem rumar o disco sob esta ótica. Tudo em “MCII” parece ser um preenchimento natural de todos os elementos que envolvem o artista e sua música.
Isso porque, no fim das contas, o intenso (e assertivo) trabalho de melodias oferece a nossos ouvidos uma audição inegavelmente agradável. Os ruídos são medidos, são tratados com cautela; os tradicionais elementos do garage rock são polidos para alcançar uma dimensão cativante, tão sensível quanto o rock colorido da década de sessenta. De fato, nomes como The Beach Boys, The Zombies e The Beatles parecem aparecer em pequenos detalhes do disco, amparando as inspirações naturais em nomes com Ty Segall, Dinosaur Jr. e Teenage Funclub.
08. The Next Day – David Bowie
Gênero: Art Rock
Embora não precise provar mais nada pra ninguém desde os anos setenta, quando construiu alguns dos melhores trabalhos da história do rock, David Bowie necessitava voltar a ativa – afinal, o mundo ainda precisa do Camaleão. Além disso, é muito estranho ver um dos nomes mais irrequietos da música mundial entocado durante tanto tempo, como se fosse um urso em pleno inverno: desde 2003 Bowie não nos presenteava com um novo exemplar de estúdio.
Mas o fato é que a hora chegou, e enfim podemos nos deliciar com um novo álbum de Bowie, independente de quanto tempo ele tenha demorado. “The Next Day” é um ótimo trabalho de retorno, conciso e consistente, que mostra que o veterano músico inglês ainda tem muita lenha para queimar.
Aliás, do nosso ilustre time de veteranos não temos nada do que reclamar. Nos últimos tempos, os velhos nomes da música parecem ter recuperado a ânsia em construir grandes trabalhos, deixando claro o que é de conhecimento geral, mas muito jovens insistem em ignorar: na música, como em diversas outras áreas, idade não é documento. E é muito bom ver o grande Bowie acompanhando essa maré, criando um grande álbum e seguindo, quanto à qualidade, outros velhos nomes que têm voltado a se destacar nos últimos anos, como Paul Simon, Leonard Cohen, Bruce Springsteen e Bob Dylan.
Até porque, em “The Next Day”, Bowie recupera muitas das características fundamentais de sua música, fazendo-a soar dinâmica e camaleônica como no ápice de sua carreira. Não, “The Next Day” não está no mesmo patamar dos históricos registros de Bowie lançados lá na década de setenta, mas volta a apresentar suas diferentes facetas com uma consistência não observada nos últimos discos do músico. (Leia a resenha completa do disco)
07. The Electric Lady – Janelle Monéa
Gênero: Pop/R&B
Embora artistas como Beyoncé, Justin Timberlake, Frank Ocean e The Weeknd tenham trabalhado para resgatar o velho R&B e transformá-lo em novidade, ninguém no cenário atual parece se agarrar tão bem às velharias da música negra norte-americana quanto Janelle Monéa. Indo dos clássicos da Motown às cores do OutKast, passando por nomes como Stevie Wonder, Michael Jackson e Prince, a cantora vem construindo uma carreira brilhante, que alcançou o ápice no clássico “The ArchAndroid”, de 2010, e agora vê em “The Electric Lady” uma sequência mais do que assertiva. Novamente inserida no cenário do filme “Metropolis”, de 1927, Monéa revitaliza a música do passado interpretando a androide Cindi Mayweather, em uma constante batalha entre o velho e o novo, a máquina e o humano.
Mesmo em um ambiente futurístico dominado por robôs, a artista consegue discutir temas extremamente humanos, fazendo com que Cindi Mayweather seja inclusive atingida pelo amor. Com lirismos impecáveis, que transitam entre temas tradicionais da música pop, mas que encontram uma novidade constante com sua ambientação em um cenário de ficção científica, o álbum transita entre o melhor do pop atual e a soul music de décadas atrás com invejável fluência. Monéa, indubitavelmente, sabe utilizar das melhores influências e ao mesmo tempo imprimir sua personalidade, com um andamento sonoro em que tudo soa certeiro e natural. Em poucos segundos, ela vai dos anos sessenta até o futuro sem que sequer percebamos tal amplitude.
É entre canções certeiras e participações mais do que pontuais que “The Electric Lady” vai se desenvolvendo. Nomes como Prince, Erykah Badu, Solange, Miguel e Esperanza Spalding ajudam a tornar o disco um verdadeiro quebra-cabeça de estilos, épocas e vertentes, vagando em proporções épicas por gêneros como hip hop, soul, rock, gospel, jazz e funk.
06. M B V – My Bloody Valentine
Gênero: Shoegaze
É até surpreendente, de alguma forma, falar sobre o álbum em questão. Afinal, ao longo de duas décadas, o terceiro álbum do My Bloody Valentine passou de uma quase certeza a uma das maiores lendas da música contemporânea. Pode parecer incrível, uma ficção pós-apocalíptica, mas aqui finalmente ele está, mais de vinte anos após o lançamento do memorável “Loveless”. Eis aqui, enfim, o terceiro e tão aguardado álbum do quarteto liderado por Kevin Shields.
Mais do que as distorções sonoras que formam a identidade musical do grupo, a carreira do My Bloody Valentine parece ser, constantemente, atingida por distorções temporais. Tanto que nem “Loveless”, ápice artístico do grupo, deixou de ser relativamente atrasado: o registro precisou de mais de três anos de produção para ser finalizado, além de ter exigido um investimento tão alto que quase levou a Creation Records a falência. Agora (ou melhor, durante os últimos vinte anos), desgarrados de qualquer gravadora, Kevin Shields e seus pupilos entregam ao ouvinte um trabalho independente, lançado via web, mostrando tudo o que o grupo pensara, prepara e gravara durante todos esses anos que passaram.
Embora muita coisa tenha mudado do lançamento de “Loveless” para cá, é indiscutível que a força do My Bloody Valentine continua inalterada. Mesmo sem abandonar a sonoridade tradicional da banda, arquitetada em seus dois primeiros álbuns, o grupo irlandês, ciente da grande passagem de tempo, faz de “M B V” um registro que vai além de uma simples continuação de “Isn’t Anything” e “Loveless”. Kevin Shields, felizmente, não deixou de experimentar, de voltar o seu olhar para o futuro, enquanto tenta construir, com sua guitarra atmosférica, a perfeição dentro do shoegaze; por mais que diversas bandas novas, influenciadas pelo que o My Bloody Valentine fizera antigamente, tenham atingido um ineditismo maior dentro do gênero, não há como negar a grande novidade incluída dentro de “M B V”. Além de um conciso conjunto de nove canções, o novo álbum insiste em querer acrescentar, a cada instante de sua duração, algo a mais para a já consagrada sonoridade da banda, seja com novos experimentos ou com uma fantástica intensidade sentimental. (Leia a resenha completa do disco)
05. Shaking the Habitual – The Knife
Gênero: Synthpop
Álbuns de música, quando bem intitulados, conseguem passar através de seu nome muito de seu conceito. O que dizer, portanto, de um álbum intitulado “Shaking the Habitual”? De fato, o que os irmãos Karin e Olof Dreijer desejam com o novo do álbum do The Knife é mexer com o que é considerado habitual. Fugindo de todas as obviedades possíveis, os suecos entregam a seus ouvintes não apenas um resultado positivo para toda a expectativa instalada em torno do lançamento, mas mais um clássico da música eletrônica. Conseguindo alcançar até mesmo o nível épico de “Silent Shout”, o duo surpreende o público mais uma vez.
Tematicamente mais coletivo que os demais álbuns do The Knife, “Shaking the Habitual” abandona o íntimo de seus criadores para ser construído acima da proposta que aborda “o fim da riqueza extrema”. Discutindo os rumos econômicos do mundo, bem como as crises que assolam vários países pelo globo, Karin e Olof Dreijer discutem a desigualdade tão bem quanto qualquer artista da música folk ou do hip hop. O disco realmente implementa novas possibilidades às gastas bases do synthpop, manuseando a música eletrônica de uma forma completamente inventiva, procurando fabricar, acima de tudo, uma musicalidade regada à novidade.
Desconstruindo sons, capturando vozes obscuras e passeando por inúmeras vertentes da música mundial, seja eletrônica ou não, o que o The Knife acaba alcançando, em “Shaking the Habitual”, uma atmosfera densa, complexa e deliciosamente ineditista. Nada soa repetitivo, programado, e até as inspirações são difíceis de ser captadas. É como se os suecos almejassem um espaço próprio dentro da música mundial, trabalhassem duro para se tornar intocáveis e conseguissem o resultado esperado sem nenhuma dificuldade. Mais do que buscando a evolução de seu som, o duo procura a louvação do público… E trabalhando de forma magistral, como seria possível não encontrá-la? Se você já era fã do The Knife, sinta-se homenageado pelo duo; se você ainda não é, então não perca tempo e aprenda logo a ser.
04. Loud City Song – Julia Holter
Gênero: Art Pop
Até as mais agitadas cidades encontram na madrugada um cenário silencioso de recolhimento. A intensidade do dia, com seus sons permeados pelos raios do sol, dá lugar à madrugada e sua total escuridão. Pessoas apressadas e automóveis em um vai-e-vem constante acabam se recolhendo em seus aposentos, e poucos se encorajam a enfrentar as ruas tomadas pelas trevas enevoadas expelidas pela atmosfera noturna. Enfrentando esse cenário obscuro e misterioso, Julia Holter arquiteta o que é não apenas o seu terceiro disco, mas o que parece ser, até hoje, sua maior obra. “Loud City Song” é um tratado sobre o silêncio e as sombras trazidas pela noite.
Se o que se pede, portanto, é um teor atmosférico, saiba que Julia Holter demonstra dominar como poucos artistas as texturas possibilitadas pelos sons sintéticos. Domando com primor os sintetizadores (ela inclusive tem feito shows com um equipamento gigantesco), a musicista encontra em uma perfeita ambientação musical uma adaptação certeira dos inventos setentistas de Brian Eno. As inspirações, porém, encontram no formidável manuseio de Holter um verdadeiro sentido de novidade, amplificado pelo modo enevoado em que as canções são trabalhadas.
Outro grande êxito de Holter é saber tornar “Loud City Song” um registro acessível. E o impressionante é perceber que isso acontece logo no trabalho mais obscuro da artista: apesar de mais “coloridos”, tanto “Tragedy”, de 2011, quanto “Ekstasis”, de 2012, não conseguiram alcançar de forma tão certeira os sentimentos do público quanto o presente registro.
03. Yeezus – Kanye West
Gênero: Hip Hop
Dono de uma das mais competentes e inventivas discografias dos últimos tempos, Kanye West cada vez mais se destaca como uma das mentes mais privilegiadas da música atual, produzindo discos com maestria e se postando como um dos melhores rappers da história. Embora sua música se agarre a exageros, sendo o músico excêntrico e polemizador, não há como negar a qualidade criativa da carreira em estúdio que ele vem construindo desde 2004: álbuns como “The College Dropout”, “Late Registration”, e “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” se comportam como verdadeiros clássicos modernos, e não apenas do hip-hop, mas da música mundial em geral.
“Yeezus”, o sexto álbum solo do artista, pode não ser o melhor, mas é o mais surpreendente exemplar de seu catálogo até agora. Algo que poderia ser até considerado normal para um músico que trata de construir um universo único em cada álbum, explorando suas ideias efervescentes ao costurar com capricho uma colcha de referências retalhadas, sendo influenciado e influenciando diversos artistas. Mas, ao conferir os primeiros segundos do novo álbum, percebe-se nitidamente que o cara tratou de se superar como nunca; “Yeezus” tenta reconstruir a imagem de West ao desconstruir tudo o que ele havia feito até agora, fazendo com que ele renasça quando alguns esperavam, erroneamente, uma continuação do que havia sido apresentado em ”My Beautiful Dark Twisted Fantasy”.
As batidas sintéticas da primeira faixa, ”On Sight”, já procuram dar o tom da sonoridade do disco, um legítimo álbum futurista e experimental, utilizando (e criando) o que há de mais atual na cena atual do hip-hop. Embora, em um primeiro momento, o cenário possa ser relacionado ao que se desenvolvera em 2007, no álbum “Graduation”, aos poucos o ouvinte vai sendo levado a uma atmosfera ineditista, se afastando da “pessoa Kanye West” para ser envolvido pelo universo que rodeia o compositor. Algo curioso, ao percebemos que “Yeezus” se trata de um disco mais “solitário”, com menos participações… Talvez Kanye West esteja vivendo um processo de mudanças, tanto pessoais quanto artísticas, e anseie desgarrar-se (mas não por completo) da imagem egocêntrica que construiu. (Leia a resenha completa do disco)
02. Reflektor – Arcade Fire
Gênero: Indie Rock
Um dos maiores méritos do Arcade Fire é a sua incrível capacidade de se reinventar. Além de ser uma das pouquíssimas bandas que contém apenas ótimos exemplares em sua discografia, o grupo pode gabar-se de nunca ter estacionado no lugar-comum. Quem esperava, em 2007, que eles utilizassem as aclamadas bases de “Funeral” para construir a continuação de sua carreira, acabou se esbarrando em “Neon Bible”, um disco que parecia já deixar muito claros os conceitos pregados pelo coletivo canadense. O Arcade Fire não teme em percorrer novos caminhos, mesmo que isso signifique o abandono de fórmulas que deram, no passado, um ótimo resultado. E agora, depois de ganhar o Grammy de melhor álbum do ano de 2010 com “The Suburbs”, a banda investe mais uma vez na mutação ao percorrer uma epopeia dançante em “Reflektor”, o quarto disco de sua carreira.
O conceito do disco começou a ser construído, primeiramente, a partir de uma viagem realizada por Win Butler e Régine Chassagne ao Haiti, terra-natal da família da musicista. Considera por Butler como uma experiência que mudou a sua vida, a permanência do casal no país mais pobre das Américas abriu-lhes as mentes a uma visão de mundo que jamais haviam experimentado. Mergulhando sem temores na cultura daquele povo tão sofrido, tanto Butler quanto Chassagne encontraram, mesmo em meio a tantas dificuldades, uma tradição musical pautada na dança e na alegria. Se em seu trabalho anterior a banda havia ficado presa aos subúrbios onde seus membros cresceram, agora, com “Reflektor”, há o desgarramento das raízes para a conquista de uma percepção mais universal. Não faltam, portanto, toques tropicais e de descendência africana às bases do registro.
Mas como Win Butler já avisava tempos antes do lançamento do disco, “Reflektor” não é uma mostra do Arcade Fire tocando música haitiana. Há uma constante incorporação de elementos caribenhos, é verdade, mas estes flertes formam apenas uma parte do generoso quebra-cabeça de inspirações que fomenta o trabalho. Presença mais do que atuante durante os processos de gravação, o produtor James Murphy, do LCD Soundsystem, coligou de forma absolutamente assertiva seus rumos eletrônicos com a sonoridade característica da banda canadense. Ansiosos por elevar ao épico os toques sintéticos que permearam ”Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, a penúltima faixa de “The Suburbs”, os membros da banda não pouparam interesse no casamento do Arcade Fire com as pistas de dança. (Leia a resenha completa do disco)
01. Modern Vampires of the City – Vampire Weekend
Gênero: Indie Pop
É curioso como a melancolia do nosso cotidiano pode se apresentar atraente: tudo depende do ponto de vista. Os cenários urbanos, repletos de ruído e concreto, podem se tornar poéticos se imprimirmos um olhar diferente ao mundo que nos cerca. Esquinas podem se tornar versos, rimando as ruas que se encontram. Muros se tornam melodias, e os congestionamentos uma grande sinfonia. Para tanto, porém, um olhar extremamente sutil torna-se necessário… Só com uma enorme sensibilidade névoas de poluição conseguem ser transformadas em nuvens de aroma suave.
Com “Modern Vampires of the City”, o Vampire Weekend faz do mundo atual o cenário para uma obra de arte. Encontrando nas paisagens urbanas de Nova York o limiar de uma sonoridade afetuosa, Ezra Koenig e sua banda conseguiram transformar um álbum vanguardista, recheado de experimentalismos, em um dos registros mais cativantes dos últimos anos. Através de passeios por praças, ruas e avenidas, entre multidões de pessoas e filas de automóveis, aspectos da vida moderna são tratados com imensa assertividade pela banda, mesclando letras, melodias, coros de vozes e seções de percussão com brilhantismo para construir um registro que a todo instante parece tender ao épico. Dos primeiros segundos de “Obvious Bicycle” ao silêncio final de “Young Lion”, tudo parece ser tomado por uma áurea que transcende entre o pueril e o grandioso.
“Modern Vampires of the City” não é só mais um álbum surpreendente… É um disco mágico, que excita através de seu inteligentíssimo jogo de detalhes. Seja em seções tomadas pelos elementos da música pop, ou em canções que parecem ter saído dos ares mais coloridos da música sessentista, pequenos detalhes instrumentais e vocais rumam o trabalho rumo a seu magnífico resultado. No fim, um conjunto seminal se apresenta, saindo de proporções tímidas para alcançar uma verdadeira explosão musical.