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Lista: Os 30 Melhores Álbuns Nacionais de 2013 [20-11]

Os 30 Melhores Álbuns Nacionais de 2013

[30-21] [20-11] [10-01]

De Dentro da Gaveta da Alma da Gente20. De Dentro da Gaveta da Alma da Gente – Fernando Temporão

Gênero: MPB

Fernando Temporão não é o único músico brasileiro que abre a gaveta de sua alma para arquitetar sua carreira, mas ao explorar um conjunto que se afasta das mesmices da música introspectiva, o artista carioca faz de seu primeiro disco um convite a uma dança alegre e suave, distante das agonias e do cenário negro que muitas vezes se instalam na música autoral. Tristezas sempre existem, é verdade, mas por que não explorar os aspectos da vida de uma maneira mais positiva? Com um delicioso jogo instrumental, que passeia por diferentes gêneros da música e mantém, ao mesmo tempo, a unidade do disco, Temporão nos convida com “De Dentro da Gaveta da Alma da Gente” a folhar aquelas fotografias que retratam a beleza muitas vezes escondida do nosso dia-a-dia.

Com letras que se comportam como verdadeiros retratos, recortes do cotidiano do compositor, a base lírica é adornada em total comunhão com os rumos sonoros. Aproveitando a produção de Kassin, Temporão borda um minucioso conjunto de bases instrumentais sólidas, que vagam do moderno ao pueril em um sentido de total naturalidade… Em poucos segundos, há mudanças de gênero e direção, mas sempre mantendo um caminho a ser seguido. A música tropical, com o calor característico do Brasil, é aproveitada pelo compositor como a delineadora total de uma musicalidade rica, repleta de elementos. Do jazz ao brega, Temporão consegue fazer de seu primeiro álbum uma concisa viagem sonora.

Ao mesmo tempo (e talvez aí está a grande interferência de Kassin), o disco sabe soar pop. Seja com números serenos ou com acompanhamentos eletrônicos, Temporão, acompanhado de seu ótimo senso lírico e de seu vocal acolhedor, torna os objetos da gaveta de sua alma um bem comum, oferecido para as mãos dos ouvintes. Afinal, não é preciso falar difícil, com extremo simbolismo, para expor ao público os mais íntimos sentimentos.

Impossível Breve19. Impossível Breve – Jennifer Souza

Gênero: MPB/Folk

Como é bom acompanhar, agora com mais evidência, a bela voz de Jennifer Souza. Ainda que se destaque na banda Transmissor, elogiado grupo mineiro do qual ela faz parte, só um trabalho solo seria capaz de demonstrar, em totalidade, todo o talento detido pela jovem. Seja com suas letras inteligentes ou com seu vocal sensível, Jennifer encontra o complemento natural e necessário de sua carreira ao encarar “Impossível Breve”, seu primeiro disco totalmente seu. Refletindo seus próprios anseios e suas emoções mais íntimas, a musicista borda um disco inegavelmente bonito, que passeia livremente por um cenário agridoce em um exercício certeiro de encantamento.

A voz e as letras pertencem a Jennifer Souza, os temas líricos são intimistas, mas ela faz certo ao não negar os elementos que vêm construindo sua carreira junto ao Transmissor. Pequenos nós musicais provenientes da banda ajudam Jennifer a amarrar suas inspirações, tecendo uma teia dinâmica e envolvente. Adornando os vocais, que formam, no fim das contas, o elemento mais destacável de “Impossível Breve”, a base sonora caminha sem tropeções ou escorregadas por um musicalidade fina, pomposa, que às vezes é capaz até de nos fazer lembrar dos mais refinados ensaios da bossa-nova. Sobram toques de jazz, o indie rock do Transmissor serve como um ponto de partida, e o folk soturno mostra-se um chão… Mas e os clássicos da música mineira? Encontram-se representados, é claro, naquela velha e boa readaptação dos elementos plantados por Milton Nascimento e Lô Borges lá nos anos setenta.

A própria participação de seus companheiros de Transmissor auxilia Jennifer ao produzir a sucessão de acertos do seu primeiro disco. Sim, a voz dela é encantadora, mas o que seria dela sem o acompanhamento de belíssimos arranjos? Talvez acompanhando o processo construtivo do disco, as temáticas também parecem partir do pessoal rumo ao coletivo. Embora representem passagens íntimas da cantora, as bases líricas vão aos poucos tornando-se retratos familiares, para que, no fim, todo ouvinte possa ser atingido pelas nuances pregadas pela compositora.

Quebra Azul18. Quebra Azul – Baleia

Gênero: MPB/Post-Rock

Ao passear pelo oceano musical do primeiro disco da banda carioca Baleia, uma pergunta torna-se inevitável: como isso tudo é possível? Muito mais do que uma alegria, é uma bênção existir um novo grupo brasileiro disposto a encarar arranjos primorosos. Desde o cover refinado de “What Goes Around… Comes Around”, que apresentou o coletivo aos quatro cantos do Brasil, o que adorna a Baleia é a grande expectativa de haver, dentro daquele sexteto, um dos melhores projetos musicais desta década.

O processo lento que envolveu a produção de “Quebra Azul” pode até ter decepcionado alguns, ainda mais nesses tempos em que a regra parece ser “consumir com rapidez”. Mas os mais pacientes foram recompensados. A lentidão, aliás, se tornou uma grande aliada do conjunto, que pôde conhecer melhor a si mesmo à medida em que os dias passavam. Em dois anos, eles foram se distanciando dos toques jazzísticos para experimentar um conjunto bem mais amplo de referências, em um sentido mais do que correto de expansão. Com tanta sensibilidade em mãos, os músicos souberam como se apresentar a novos cenários, possibilitando novas possibilidades e uma riqueza cada vez maior de detalhes à sua base musical.

Ouvir “Quebra Azul” é ser, enfim, envolvido pelos detalhes. Em meio a uma fluidez tão dinâmica, que cria paredões de sons instáveis, que se transformam em poucos segundos, fica até difícil saborear tudo em apenas uma oportunidade. A cada nova audição, um novo conjunto de detalhes se revela, tornando o disco cada vez melhor. De fato, a salada musical de “Quebra Azul”, com suas variações entre o simples e o complexo, passeando por diversas vertentes, cria uma atmosfera sedutora de infinitas nuances. Impossível não se sentir provocado por tudo que o álbum proporciona.

Beija Flors Velho e Sujo17. Beija Flors Velho e Sujo – São Paulo Underground

Gênero: Avant-Garde Jazz

Como é difícil explicar o som do São Paulo Underground, deixemos que o próprio Rob Mazurek cumpra este papel: segundo ele, “o som precisa ser dividido, quebrado, batido, acariciado, beijado, afundado, enterrado e catapultado para novas dimensões de modo que inicie um diálogo entre universos”. Eita… Como diziam naquele antigo programa, senta que lá vem história!

Para início de conversa, é preciso que se deixe bem claro o conceito de “Beija Flors Velho e Sujo”: em contraponto ao passado do projeto, o novo disco é bordado para ser “acessível”. Para se ter uma ideia, existe até uma clara homenagem a Ivete Sangalo na quinta faixa do álbum, “Evetch”. Mas como pode um registro de jazz experimental soar de fácil acesso ao público em geral? Aí mora o “diálogo entre universos” citado por Mazurek. Todo o disco é formado por um conjunto fantástico de arranjos que amarram, a todo instante, o Brasil de Maurício Takara e Guilherme Granado com os Estados Unidos de Rob Mazurek. Pois é pegando carona nos elementos do tropicalismo, brincando com os ritmos quentes e as cores vivas do nosso país, e até flertando com melodias carnavalescas, que o São Paulo Underground faz com que os mundos do pop e do experimental, tão distantes, possam conversar entre si.

De resto, os mesmos êxitos instrumentais que já haviam sido apresentados em outras oportunidades se fazem presentes, não abandonando, porém, o teor de inovação que sempre caracterizou o projeto. A corneta de Mazurek voa pelo disco, costurando coloridas vestimentas sonoras do início ao fim do registro, enquanto Takara e Granado trabalham como operários, pedreiros, assentando os tijolos sobre os quais seu companheiro norte-americano se aventurará. Das programações eletrônicas brilhantemente construídas, das percussões que dão ao disco a cara da música brasileira, provém toda a base capaz de fazer o São Paulo Underground encarar, mais uma vez, a louvação. Seja aqui no Brasil ou nas terras do Tio Sam, o que não falta é gente elogiando toda a invenção proposta pelo trio.

Vamos pro Quarto16. Vamos pro Quarto – Cérebro Eletrônico

Gênero: Rock Psicodélico

A banda paulistana Cérebro Eletrônico nunca foi de esconder o jogo, e em “Vamos pro Quarto”, seu quarto álbum, o conceito fica claramente exposto logo na capa. Representando a pintura “O Jardim das Delícias Terrenas”, fabricada em 1504 pelo artista holandês Hieronymus Bosch, a imagem representa um erotismo místico que chocou o público da época. Para a Cérebro Eletrônico, em 2013 a orgia pode ser representada em forma de música, e “Vamos pro Quarto” parece se comportar como um verdadeiro tratado dos prazeres mundanos. Segundo os paulistanos, a ida ao céu ou ao inferno é apenas um detalhe irrelevante, e os aspectos nada inocentes da vida devem ser aproveitados ao máximo.

Concordando ou não com os caras, é inevitável sentir-se atraído pelas bases que compõem o presente registro. Ao propor uma viagem lisérgica pelos cenários mais errôneos da cidade de São Paulo, a banda cheira os perfumes das prostitutas da Rua Augusta e compartilha garrafas de pinga com mendigos debaixo de um viaduto… Nojento, não? Que nada! Como se, de uma hora para a outra, todo o aspecto cinzento da metrópole se transformasse em um bonito conjunto de cores, a Cérebro Eletrônico consegue levar beleza aos cenários mais inimagináveis.

Um disco improvável, instigante e deliciosamente inventivo, “Vamos pro Quarto” aproveita do leque infinito de possibilidades do rock psicodélico para brincar com o desconhecido. Porém, já experiente, a banda sabe como mesclar essa base totalmente lisérgica com a música pop para torná-la de percepção próxima dos ouvintes. Verso após verso, faixa após faixa, tudo no disco parece ser minuciosamente pensado não apenas para agradar, mas para surpreender quem topa o ousado passeio proposto pela Cérebro Eletrônico.

Dorgas15. Dorgas – Dorgas

Gênero: Chillwave

Renovação é a palavra-chave do primeiro registro de longa duração do Dorgas. Ainda que as bases dos EP’s anteriores se façam presentes, “Dorgas”, o álbum, é levado em consideração pelo quarteto como uma grande experiência de descoberta. Cada vez mais distantes do jazz chapado das primeiras músicas, ou até mesmo do rock, Cassius Augusto, Eduardo Verdeja, Gabriel Guerra e Lucas Freire abraçam os rumos atuais da música eletrônica estrangeira para construir uma obra feita para dançar. Recheado por vertentes como chillwave, dream pop, madchester, Miami bass e new wave, o disco pode até soar como um registro feito por hipsters para hipsters, mas mesmo assim se caracteriza como um dos registros mais inventivos dos últimos tempos da música brasileira.

Como se aproveitasse o cenário Lo-Fi popularizado por Silva no disco “Claridão”, o Dorgas não deixa de apresentar elementos novos à música tupiniquim. As bases chapadas do Primal Scream no clássico “Screamadelica” parecem ganhar contornos verde-amarelos, dando um significado tropical aos sintetizadores do hemisfério norte. No fim das contas, o álbum de estreia do Dorgas é uma trilha sonora perfeita para as festas mais intensas do litoral brasileiro nos dias quentes de verão… Um disco regado a muita energia, diversão, descontração e, é claro, drogas sintéticas… Ou você achava que o grupo tinha esse nome devido à numerologia?

Pois saiba que do título à capa, todo o conceito do disco é perfeitamente representado. Com sua sonoridade quente e envolvente, o quarteto carioca vai construindo um trabalho digno de entorpecer qualquer ouvido. Melodias hipnóticas, efeitos psicodélicos e vocais distantes – que funcionam como mais um elemento em meio à salada instrumental – fazem com que a ingestão de alucinógenos nem seja necessária para a perfeita contemplação do registro. Sim, o Dorgas quer te entorpecer, e se eu fosse você, deixaria ser levado por essa agradável experiência.

Vazio Tropical14. Vazio Tropical – Wado

Gênero: MPB

Uma figura ímpar da nossa música, o catarinense-alagoano Wado nunca se contentou em permanecer no mesmo lugar (e olha que tal afirmação nem leva em consideração aspectos geográficos, visto que ele é um sulista radicado no nordeste). As mais importantes mudanças de direção estão, definitivamente, nos rumos de sua carreira; afinal, o artista sempre tentou fazer de seus registros trabalhos únicos, diferentes um dos outros tanto em estilo quanto em conceito. Desde sua parceria com a banda O Realismo Fantástico até os toques sintéticos que permearam o aclamado álbum “Samba 808″, a carreira de Wado se comporta como uma das mais inventivas e produtivas da cena alternativa nacional.

“Vazio Tropical”, o sétimo disco de sua carreira, pode até ser considerado como o menos surpreendente exemplar de sua discografia, mas apresenta mais um ponto de desgarramento. Novamente, Wado convida o ouvinte para um exercício quase hipnótico de esquecimento do passado, deixando de lado os conceitos que haviam construído seus álbuns anteriores: nada do suingue de “Terceiro Mundo Festivo”, tampouco a herança africana de “Atlântico Negro” e muito menos o rumo eletrônico de “Samba 808″. Pra variar, Wado faz de seu novo álbum um conjunto de novas abordagens, ao costurá-lo com texturas muito mais calmas e intimistas.

Ao investir em uma sonoridade basicamente acústica, Wado renuncia a utilização da base dançante que havia construído grande parte de sua carreira até agora. Afinal, “Vazio Tropical” é uma obra serena, tocada pela sutileza, buscando na MPB da década de setenta muitos dos conceitos que a constroem. Mas estaria o músico, ao investir em antigas ideias, abandonando a veia experimental que tanto tem caracterizado sua carreira? Talvez a grande surpresa de “Vazio Tropical” esteja justamente no fato de sua sonoridade não surpreender: enquanto todos esperavam mais uma obra inventiva, Wado utiliza-se do encontro da atual com a velha MPB para construir mais um cenário de evolução da sua carreira. (Leia a resenha completa do disco)

Bixiga 7013. Bixiga 70 – Bixiga 70

Gênero: Jazz/Afrobeat

O segundo álbum do Bixiga 70 é colossal. Procurando representar em estúdio as apresentações incendiárias do conjunto, o registro passeia por uma infinidade de referência do jazz e do afrobeat em um sentido de completa expansão. Ainda que mais ameno que o álbum anterior, o presente registro propõe uma viagem pelo Brasil, pela África e pelo hemisfério norte a fim de encontrar o crescimento definitivo do conjunto.

Naturalmente tropical, o álbum encontra em uma musicalidade quente, que não decai em nenhum momento, um ponto de rápida afirmação. Envolventes, as canções nos prendem de forma com que nos sintamos parte integrante do projeto, espectadores de uma apresentação ao-vivo. Acertando em cheio no conceito e alcançando sem nenhuma dificuldade o resultado desejado, o segundo disco do Bixiga 70 se comporta como um dos grandes clássicos jazz nacional, implementando uma sonoridade extremamente pulsante em nossos ouvidos.

Indo de Miles Davis ao carimbó, dos cenários arenosos da África à paisagem cinza da capital paulista, o Bixiga 70 parece não querer se prender a rótulos. Percorrendo várias vertentes da música experimental e avançando a largos passos além das fronteiras de São Paulo, a big band cumpre com louvor o papel de construir uma obra universal, pra lá das noites do Baile do Bixiga.

Pearl12. Pearl – Rubel

Gênero: MPB/Folk

Desgarrar-se das raízes é sempre uma boa oportunidade para encontrar melhor o que há no interior. O carioca Rubel, enquanto estudava cinema na cidade de Austin, no Texas, viu seu íntimo se aflorar na composição de “Pearl”, seu primeiro disco. Uma união da MPB carioca com o folk texano, o álbum se comporta não apenas como um toque de novidade na tradicional música tupiniquim, mas, principalmente, como uma genuína explosão sentimental.

Provavelmente o músico mais brasileiro mais próximo da musicalidade confessional de Nick Drake, Rubel aborda, com um formidável conjunto de acordes, a sua genuína base sentimental. Tratando da profundidade de seus sentimentos, mas conseguindo tocar a alma dos ouvintes, o jovem arquiteta uma imensidão sonora capaz de ser apresentada em apenas sete faixas, em pouco mais de trinta minutos.

“Pearl” não é um álbum inovador. Tem como base apenas a voz e violão de Rubel, e reflete, basicamente, a união das tradições brasileiras e norte-americanas… Mas mesmo assim está entre os trabalhos mais assertivos dos últimos anos da MPB. Por quê? Convenhamos que, para a nossa música, um pouco de sensibilidade é sempre bem-vinda. Por mais que se busque o inédito, a evolução, é sempre o coração que dá as ordens. E em seu disco, o jovem Rubel parece tratar, com muita experiência, o rumos dos sentimentos. Cada acorde é um alento, cada verso é um tratado. Não pouca, mas muita sensibilidade.

Cadafalso11. Cadafalso – Momo

Gênero: MPB

Segundo palavras de Wado, presentes no release de “Cadafalso”, o novo capítulo da carreira de Momo, o disco mostra a “coragem para mirar o abismo”. Sem grande técnica de gravação, sem encarar os modernos efeitos sonoros possibilitados pelos estúdios, o músico carioca apresenta e refina o conceito de voz e violão.

Ainda utilizando as palavras de Wado, “o disco é vivo e orgânico, resultado de uma produção que optou por usar o mínimo de ferramentas e recursos de estúdio para deixar voz e violão atuando como protagonistas. O que se ouve é uma sonoridade crua. Voz e violão sem overdubs. Funciona bonito. É quase uma massa de modelar no sentido de ser uma coisa só: o canto juntinho do violão”.

“Momo encontrou uma forma de execução rara”, continua Wado, “de se encontrar na cena atual e sua poesia – e nisso estou envolvido – encontra caminhos novos e inusitados, vezes evitando rimas e noutras nos jogando imagens bonitas, porém desconcertantes”. Se Wado sabe tudo de música brasileira, e se Momo é um dos mais respeitados artistas da safra atual, nada mais justo do que avaliar estas bonitas palavras dando uma oportunidade ao quarto álbum do carioca: sem dúvidas, é um disco que vai te encantar.

Lista: As 10 Melhores Colaborações Musicais de 2013

ajuda

Dizem que, sem nenhuma ajudinha, as coisas ficam quase impossíveis. É por isso que as pessoas que trabalham com música, não raramente, se unem para construir seus respectivos trabalhos. Eis aqui uma lista que não poderia faltar, visto as grandes colaborações que ajudaram a construir, musicalmente, o ano de 2013. Seja com um dueto entre cantores, com interações entre banda produtor ou até mesmo com uma pequena ajuda de um amigo, os últimos meses foram repletos destas cooperações. Segue, então, a nossa lista das “10 melhores colaborações musicais de 2013”.

10. Emicida + Pitty

Emicida construiu, com “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”, um divisor de águas em sua carreira. Ao fabricar uma verdadeira superprodução, o artista conseguiu alcançar o grande público (até o menos receptivo ao hip hop) sem grandes dificuldades, mesmo sem abandonar as suas raízes. O ponto mais proeminente de aproximação do músico com a música pop mora na assertiva parceria com a baiana Pitty, que gerou a ótima “Hoje Cedo”. Uma semi-balada tristonha, a canção insere o rapper em um cenário roqueiro, em que a audição facilitada e, por consequência, a grande possibilidade de atingir o público, são mostradas em altíssimo nível.

09. Alex Turner + Josh Homme

Várias colaborações no mundo musical são uma via de mão dupla. Um exemplo claro disso está na parceria entre Alex Turner (líder do Arctic Monkeys) com Josh Homme (líder do Queens of the Stone Age). Se Tuner já havia participado de “…Like Clockwork”, último álbum do Queens of the Stone Age, Homme foi ainda mais incisivo na produção de “AM”, quinto álbum da banda indie inglesa. Emprestando muitas das características de sua música, que fizeram o Arctic Monkeys se aproximar a passos largos do stoner rock e, consequentemente, do público norte-americano, Josh Homme ajudou os ingleses a construir mais um aspecto sólido da tão comentada “evolução sonora” da banda.

08. Wado + Marcelo Camelo

Contando com a produção de Marcelo Camelo, Wado bordou em “Vazio Tropical”, seu sétimo disco, mais um capítulo de desgarramento do passado. Deixando os rumos coloridos de seu som para uma outra oportunidade, e até fugindo do teor experimental que vinha construindo a sua obra, o compositor encarou instrumentações mais tranquilas, quase silenciosas, mas que abriram espaço para uma inquietante evolução lírica. De certa forma, ao contar com os toques de Camelo, Wado acabou construindo uma extensão do trabalho de seu produtor, atentando-se mais ao rumos líricos ao abrir um maior espaço para seções instrumentais tradicionais, trazidas do passado da MPB. “Vazio Tropical” pode até não ser o melhor trabalho de Wado, mas se caracteriza com um respiro necessário e assertivo que só a colaboração de Marcelo Camelo poderia proporcionar.

07. Black Sabbath + Rick Rubin

Em junho, quando a resenha do tão aguardado “13”, álbum de retorno do Black Sabbath, foi publicada aqui no blog, dizíamos que a produção de Rick Rubin foi fundamental para a sequência de acertos do disco: “Em suma, o cara (Rubin) fez milagre. Não é segredo para ninguém que Iommi, Osbourne e Butler estão velhos e com suas capacidades diminuídas. Tony inclusive trata de um linfoma, e Ozzy, bem… todo mundo sabe como a saúde do Madman acabou sendo prejudicada pelo uso massivo de ácidos de todas as espécies. Mas, felizmente, Rubin soube muito bem como tirar suco de laranjas velhas, fazendo com que os problemas dos integrantes passem despercebidos no disco. É claro que a energia não é mais a mesma, mas o resultado alcançado pela banda sem dúvida surpreende; no fundo, poucos esperavam por algo tão bom”.

06. Ana Larousse + Leo Fressato

E quando a colaboração ultrapassa as barreiras da música para se tornar uma grande amizade? Podemos dizer que não há nada mais genuíno que uma parceria entre verdadeiros amigos, não é mesmo? Por isso a colaboração mútua entre os curitibanos Ana Larousse e Leo Fressato torna-se tão especial: eles se conheceram há dez anos, quando cursavam juntos a faculdade de artes cênicas. Como bons parceiros inseparáveis, eles não deixariam de colaborar um com o outro logo no ano em que lançam seus discos de estreia. No fim, o que nos foi apresentado foi um resultado pra lá de sensível: tanto a colaboração de Fressato no primeiro álbum de Larousse, quanto vice-versa, se mostraram pra lá de sensíveis, trazendo consigo os mais sinceros sentimentos de amizade.

05. Haim + Ariel Rechtshaid

As garotas do Haim acabaram fazendo de seu primeiro disco, “Days Are Gone”, uma das melhores estreias do ano. Mas muito se deve ao produtor do disco, Ariel Rechtshaid, que conseguiu fazer com que as jovens irmãs mesclassem, com louvor, a música pop do passado e do presente. Encontrando um teor de sinceridade ao alocar tantas referências musicais na personalidade própria do grupo, Rechtshaid conseguiu moldar um disco deliciosamente agradável, acessível e sincero, que parece se caracterizas como uma especie de “modelo” a ser seguido por quem deseja alcançar a aclamação da crítica e do público nos próximos anos.

04. Guy Lawrence + Howard Lawrence

É possível dizer que, ao lançar o disco “Settle”, os irmãos Guy e Howard Lawrence fizeram história. Isso porque, além de muito jovens, eles conseguiram elevar a música eletrônica inglesa ao topo de uma forma como há muito tempo não se via. Próximos da música pop, e arquitetando um catálogo de canções repletos de hits, os irmãos Lawrence conseguiram unir a evolução do tato dos sintetizadores, em uma constante dualidade do velho (noventista) com o novo (atual), com a possibilidade de alcançar o grande público. Há um grande hype sobre os dois, há até mesmo quem diga que eles são os melhores produtores da atualidade, mas todo esse sucesso é facilmente explicado com o grande disco que eles lançaram. Sem dúvida, o Disclosure é uma das parcerias mais frutíferas do ano – e olha que ela está apenas começando a produzir os seus frutos.

03. EL-P + Killer Mike

Quando alocamos o disco “Run the Jewels” na 13ª colocação na nossa lista dos “30 melhores álbuns de 2013”, dissemos: “O que acontece quando dois dos melhores rappers da atualidade se unem, sem maiores pretensões comerciais, para a construção de um projeto voltado ao hip hop mais puro, totalmente distante dos modismos? Sem dúvida, o resultado é excepcional, não? Pois é isso mesmo o que ocorre em “Run the Jewels”, disco de estreia do duo homônimo integrado por EL-P e Killer Mike. Disponibilizado gratuitamente para download, o registro soa como uma despreocupada parceria entre os rappers, que se sentem à vontade para rimar sobre o mundo das drogas e a vida na noite… Mas não se engane: por trás de tanto desprendimento, há um dos álbuns mais certeiros dentro do gênero nos últimos tempos. Por quê? Sua produção é impecável, fazendo com que o objetivo seja atendido, com louvor, em apenas 33 minutos”. Portanto, não há dúvidas de que a fenomenal parceria entre EL-P e Killer Mike está entre as melhores desse ano.

02. Arcade Fire + James Murphy

Se a carreira do Arcade Fire sempre se caracterizou pelo desgarramento das ideias prontas, percorrendo novos caminhos a cada disco lançado, em “Reflektor”, o quarto álbum dos canadenses, não seria diferente. Para tanto, Win Butler e companhia recrutaram o produtor James Murphy, do LCD Soundsystem, para dar rumo às novas possibilidades sonoras da banda. Encarando o rock experimental da virada das décadas de setenta e oitenta, a música dançante e um conceito tropical, retirado das raízes caribenhas, o Arcade Fire arquitetou mais um capítulo brilhante de sua ainda curta, mas absurdamente consistente discografia… E, certamente, James Murphy foi um dos grandes responsáveis por isso ter acontecido.

01. Vampire Weekend + Ariel Rechtshaid

Quando o Vampire Weekend se viu em totais condições de esculpir o grande trabalho de sua carreira, decidiu abandonar as raízes africanas que permeavam os rumos sonoros do grupo ao convocar, pela primeira vez, um produtor de fora da banda para produzir o seu mais novo disco. Felizmente, eles escolheram a pessoa certa: Ariel Rechtshaid. No fim das contas, o agora renomado produtor, que também alcançou louvação em seus trabalhos com as garotas do Haim e com a queridinha do público Sky Ferreira, cumpriu com louvor de alocar a sonoridade do Vampire Weekend em um novo cenário. Em um misto de brilhos e sombras, melancolia e beleza, a obra-prima “Modern Vampires of the City” foi fabricada, se tornando um dos mais brilhantes discos dos últimos anos. Se é possível apontar a banda que mais evoluiu no ano, essa é o Vampire Weekend, e se considerarmos Rechtshaid como o melhor produtor de 2013, é óbvio que aqui temos, enfim, a melhor colaboração musical do ano.

Clipes & Singles: Semana 46/2013

Clipes & Singles

Sim, às vezes ela até parece que não virá, mas independente de qual semana se trata, ela sempre aparece. Quem é? A nossa seção “Clipes & Singles”, é claro. Impulsionados pelo retorno da britânica Lily Allen, surgimos com um novo resumo das canções da semana, compartilhadas, dessa vez, entre os dias 11 e 15 de novembro de 2013.

Phillip Long – End of the Line

Fim da linha? Que nada! Phillip Long continua sua produtiva carreira musical a todo vapor. Prestes a lançar o seu sétimo registro em estúdio, o músico paulista não cansa de apresentar novas texturas musicais a seu público que cada vez cresce mais. Faixa do disco “Seven”, “End of the Line” aumenta as possibilidades sonoras propostas pelo compositor, sempre íntimo da música folk e do country rock, mas claramente disposto a evoluir.

Stephen Malkmus & The Jicks – Lariat

Stephen Malkmus é um cara que sempre tem cartas na manga. Um pouco de sua imensa originalidade pode ser observada em seu novo clipe junto ao The Jicks, “Lariat”. Envolvida em arranjos simples, refletindo o “indie rock clássico” que o músico vem construindo a algum tempo, a canção encontra novos ouvidos em uma primeira experiência. Refletindo as emoções de uma primeira audição, a canção deve (e não à toa) conquistar quem a ouve pela primeira vez.

Blood Orange – Time Will Tell

Eis que, no finzinho do ano, surge um dos mais surpreendentes discos de 2013. Afinal, como não abrir o bocão com a admiração certa ao ouvir “Cupid Deluxe” e sua verdadeira ode à música negra norte-americana? Passeando por nomes como Michael Jackson, Prince e Lionel Ritche, o produtor acabou fazendo de seu novo registro uma audição imperdível. E com tantas inspirações oitentistas, por que também não abusar dos elementos culturais daquela década em seu novo registro audiovisual? Pois o clipe de “Time Will Tell” encontra nas breguices e nas danças características dos anos oitenta uma amarração perfeita ao disco a qual pertence.

Sampha – Happens

Sampha já está de volta à seção “Clipes & Singles”. Lançada junto à versão do músico para “Too Much”, faixa utilizada pelo canadense Drake em seu último disco, “Happens” mergulha em um cenário amargo e confessional, potencializando a característica emotiva da qual o músico não tem se desgarrado. Contemplando o cenário proposto pela canção, o vídeo pinta com cores tímidas a atmosfera sofrida proposta por Sampha.

Phoneix – Chloroform

“Bankrupt!”, o último disco dos franceses do Phoenix, pode até não ter correspondido às expectativas, mas como não se apaixonar pelo clipe de “Chloroform”? Dirigido por Sophia Coppola, esposa do vocalista Thomas Mars, o vídeo consegue capturar com perfeição os toques sutis e introspectivos da canção, mostrando fãs emocionadas com uma apresentação ao-vivo da banda.

Cage The Elephant – Come a Little Closer

Muitas cores, drogas e psicodelismo formam as bases do novo clipe da banda Cage The Elephant, “Come a Little Closer”. Mergulhando com tudo nos alicerces que constroem o seu trabalho, os integrantes da banda passeiam divertidamente por um universo paralelo. Vale ressaltar que eles estarão novamente no Brasil no festival Lollapalooza, onde já haviam tocado em 2012.

Wado – Infinitas Possibilidades

O novo single de Wado tem um título auto-explicativo: com um sintetizador instável, o músico volta a encarar o cenário experimental que construiu a maior parte de sua carreira. De fato, ele parece querer abandonar (pelo menos por enquanto) o cenário calmo de “Vazio Tropical”, seu último disco, para agradar seus seguidores, ansiosos por uma continuação de “Samba 808”, e menos simpáticos à MPB de Marcelo Camelo exposta pelo último disco do catarinense radicado em Alagoas.

SZA – Ice Moon

Um dos bons novos nomes do R&B, a cantora SZA não poupou de elementos etéreos o seu novo clipe, gravado para a canção “Ice Moon”. Permeada por arranjos sutis e um cenário colorido e florido, a cantora mergulha nos elementos hipnotizantes de seu single, transformando a interação entre sons e imagens em um turbilhão emotivo digno de grandes registros audiovisuais.

Marcelo Perdido – Lenhador

Quem pensou que sem a companhia de Rodrigo Caldas o vocalista da banda Hidrocor ficaria perdido, enganou-se redondamente. Marcelo Perdido está produzindo seu primeiro álbum em carreira solo, cujo lançamento está previsto para 2014. Mergulhando nos elementos sutis de sua antiga banda, Perdido constrói, no vídeo de “Lenhador”, um número sensível que agrada o ouvinte já na primeira audição, e sem nenhuma dificuldade.

Lily Allen – Hard Out Here

O que Lily Allen fará para voltar aos palcos? Segundo ela mesma, o primeiro passo é uma lipoaspiração. Depois, contar com coreografias extremamente provocantes dançadas por garotas atraentes. Apelando de vez, uma propaganda de carro de luxo. Será que, enfim, a cantora inglesa enlouqueceu de vez? Não, não é esse o caso… Seu mais novo clipe, “Hard Out Here”, é uma sátira do próprio retorno da cantora. Divertida como sempre, Allen brinca com sua própria imagem no primeiro single lançado para seu próximo álbum, “It’s Lily, Bitch!”, previsto para 2014.

2013: Vazio Tropical – Wado

Vazio Tropical

Por: Renan Pereira

Uma figura ímpar da nossa música, o catarinense-alagoano Wado nunca se contentou em permanecer no mesmo lugar (e olha que tal afirmação nem leva em consideração aspectos geográficos, visto que ele é um sulista radicado no nordeste). As mais importantes mudanças de direção estão, definitivamente, nos rumos de sua carreira; afinal, o artista sempre tentou fazer de seus registros trabalhos únicos, diferentes um dos outros tanto em estilo quanto em conceito. Desde sua parceria com a banda O Realismo Fantástico até os toques sintéticos que permearam o aclamado álbum “Samba 808”, a carreira de Wado se comporta como uma das mais inventivas e produtivas da cena alternativa nacional.

“Vazio Tropical”, o sétimo disco de sua carreira, pode até ser considerado como o menos surpreendente exemplar de sua discografia, mas apresenta mais um ponto de desgarramento. Novamente, Wado convida o ouvinte para um exercício quase hipnótico de esquecimento do passado, deixando de lado os conceitos que haviam construído seus álbuns anteriores: nada do suingue de “Terceiro Mundo Festivo”, tampouco a herança africana de “Atlântico Negro” e muito menos o rumo eletrônico de “Samba 808”. Pra variar, Wado faz de seu novo álbum um conjunto de novas abordagens, ao costurá-lo com texturas muito mais calmas e intimistas.

Ao investir em uma sonoridade basicamente acústica, Wado renuncia a utilização da base dançante que havia construído grande parte de sua carreira até agora. Afinal, “Vazio Tropical” é uma obra serena, tocada pela sutileza, buscando na MPB da década de setenta muitos dos conceitos que a constroem. Mas estaria o músico, ao investir em antigas ideias, abandonando a veia experimental que tanto tem caracterizado sua carreira? Talvez a grande surpresa de “Vazio Tropical” esteja justamente no fato de sua sonoridade não surpreender: enquanto todos esperavam mais uma obra inventiva, Wado utiliza-se do encontro da atual com a velha MPB para construir mais um cenário de evolução da sua carreira.

Com isso, apesar de menos ineditista, “Vazio Tropical” consegue se encaixar perfeitamente no cenário contemporâneo, mostrando-se como uma extensão natural dos aspectos apresentados por Marcelo Camelo em “Toque Dela” , Mallu Magalhães em “Pitanga”, e até mesmo Cícero Lins em “Canções de Apartamento”. Concepções modernas, genuinamente atuais, mas que trazem na renovação das antigas ideias seu grande ponto de acertabilidade. Wado, definitivamente, parece querer se instalar dentro desse nicho menos experimental e mais acessível ao grande público.

Os primeiros acordes de “Cidade Grande” já deixam bem clara a direção sonora tomada pelo disco, sensível e contempladora, instrumentalmente tranquila, mas de agitação poética incontestável… Em “Vazio Tropical”, Wado se preocupa menos com os rumos sonoros, procurando a todo momento alcançar maiores êxitos como letrista. “Rosa” dá provas desta ideia, com uma construção lírica própria e uma instrumentação pra lá de acessível, que chega até a alcançar a música pop. “Canto dos Insetos” é uma faixa maravilhosa, de tocante beleza, em que o músico parece alcançar o ponto máximo de sutileza de todo seu catálogo de canções.

Produzido por Marcelo Camelo, o disco claramente carrega a bagagem musical de seu produtor, incorporando elementos de “Sou” e “Toque Dela”, primeiros álbuns em carreira solo do “ex-hermano”: flertes diretos com a MPB setentista e a bossa-nova dos anos cinquenta e sessenta, mas sem se desagarrar do presente (e do futuro) ao brincar com o rock alternativo. Ponto claro de almejo de evolução lírica, “Carne” é poeticamente inovadora, com seu tímido instrumental a construir um verdadeiro colchão sonoro para os singelos arranjos vocais de Wado e o do músico uruguaio Gonzalo Deniz – que faz uma participação certeira, embora bastante rápida.

Falando em participações especiais, apesar de ser bem menos coletivo que “Samba 808”, “Vazio Tropical” não deixa de apresentar na colaboração de outros artistas um ponto importante; caso da produção incisiva de Camelo, bem como de “Flores do Bem”, faixa que traz nos belos arranjos (repletos de instrumentos de sopro) e na participação de Marcelo Frota, o Momo, grande acertabilidade. A sexta, “Quarto sem Porta”, é uma música praieira, tão rústica quanto o “Shimbalaiê” de Maria Gadú, e por isso passa longe de ser ruim; mas entre tantas faixas primorosas, se mostra como um número que, ao não crescer o que se esperava, pode causar até estranheza, ou até mesmo não convencer.

A parceria de Wado com Cícero em “Zelo” é de acertabilidade extrema, soando sensível, inteligente e (principalmente) atual, ao encontrar diretamente a sonoridade de “Canções de Apartamento” – disco que, curiosamente, disputou com “Samba 808” o posto de melhor álbum da música brasileira em 2011. Com a sucessão de faixas, o cenário poeticamente rico de “Vazio Tropical” vai se completando ao explorar aspectos cada vez mais sutis e elaborados; caso de “Tão Feliz”, em que o produtor Marcelo Camelo não apenas produz o que mais parece ser uma extensão de sua carreira solo, como também dá uma canjinha nos vocais. Já a nona, “Primavera Árabe”, vai de encontro aos versos politizados, com Wado relacionando seus sentimentos aos acontecimentos que têm abalado a política de muitos países árabes desde dezembro de 2010.

A metafórica “Cais Abandonado” é menos simplista liricamente, e por isso soa como uma espécie de evolução estética à música de Marcelo Camelo, ou até mesmo um olhar mais direto às concepções mais pretensiosas de Wado, anteriores a “Vazio Tropical”. O encerramento se dá com a faixa título, um número instrumental que, ao brincar com um sintetizador moog, parece levar propositalmente o ouvinte a décadas passadas. Assim como ocorre com a capa do disco, de um modelo que praticamente faz Wado transfigurar-se em artista da MPB dos anos sessenta ou setenta. Há os que amam os experimentos (e, de fato, eles são sempre bem-vindos), mas nem apenas de novidades deve ser feita a carreira de um compositor… E, ao revisitar velharias, mas sem deixar de lado o século XXI, Wado e seus colaboradores parecem estar acertando em cheio, acarretando em “Vazio Tropical” o resultado que dele se esperava: um marco menos ineditista, mas mesmo assim evolutivo.

Talvez o maior acerto de Wado esteja em saber, como poucos, em quem se encostar. Se os grandes êxitos de “Samba 808” estavam em seu vigor corporativo e heterogêneo, notabilizando participações como as de Zeca Baleiro, Chico César e Curumin, “Vazio Tropical” é um verdadeiro convite à homogeneidade – mas contando, novamente, com os acertos das colaborações. Afinal, se você quer se consolidar como um nome importante do cenário atual, nada melhor que trabalhar com músicos do calibre de Marcelo Camelo, Cícero e Momo.

De fato, “Vazio Tropical” é a feliz extensão das obras de seus colaboradores, e um ponto de evolução sentimental e lírica na já consagrada carreira de Wado. Pode não ser o melhor de seus discos, mas é o trabalho mais adequado para que sua música se insira, definitivamente, no supra-sumo tanto artístico quanto comercial da chamada nova MPB.

NOTA: 8,3

Track List:

01. Cidade Grande [03:01]

02. Rosa [02:32]

03. Canto dos Insetos [02:08]

04. Carne [02:50]

05. Flores do Bem [02:51]

06. Quarto Sem Porta [02:24]

07. Zelo [03:17]

08. Tão Feliz [02:31]

09. Primavera Árabe [02:42]

10. Cais Abandonado [02:55]

11. Vazio Tropical [00:54]