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Clipes & Singles: Semana 19/2014

Clipes & Singles

Lana del Rey – West Coast

Saiu o clipe oficial de “West Coast”, o primeiro single do próximo disco de Lana del Rey, “Ultraviolence”. Nele, as paisagens litorâneas que haviam permeado o vídeo anterior relativo à canção voltam a aparecer, mas dessa vez com um novo significado: abusando da atmosfera sedutora que envolve sua persona, Del Rey mostra novas facetas do seu universo particular – inclusive pegando fogo, literalmente.

Phillip Long – Noble Soul

Phillip Long sempre foi um cara que soube como transformar suas mais íntimas emoções em música para nossos ouvidos, mas agora, com seu novo trabalho, o artista parece disposto a nos surpreender ainda mais. Tendo o The Smiths como uma confessa fonte de inspiração, o ararense prepara o lançamento de seu oitavo disco para junho, agora liberando o último single antes do novo álbum ver a luz do dia: “Noble Soul” é uma canção arrebatadora, um número que só poderia ter sido composto por Long.

Savages – Fuckers

A energia e o clima intenso que envolvem as garotas do coletivo Savages só se amplificam quando elas estão no palco… Por que não, então, caprichar na filmagem de um vídeo ao-vivo da banda? Pois foi isso que o diretor Giorgio Testi fez: em uma performance visceral é apresentada a canção “Fuckers”. Veja o vídeo abaixo e simplesmente sinta-se hipnotizado durante mais de dez minutos.

China – Arquitetura de Vertigem

A verticalização das cidades é algo que ocorre em um ritmo cada vez mais veloz nas cidades brasileiras… Em Recife, terra do músico China, não seria diferente. “Arquitetura de Vertigem”, novo single do artista, e um aperitivo para seu novo disco, com previsão para lançamento em agosto, e traz na crítica à frenética construção de arranhas-céus a grande força de seus versos.

How to Dress Well – Repeat Pleasure

Tom Krell: anote esse nome. Afinal, no fim do ano, é muito provável que várias publicações do mundo da música estarão louvando o novo disco do músico sob a alcunha de How to Dress Well. “What Is This Heart?” tem lançamento previsto para junho, e deverá revelar ao mundo toda a sensibilidade presente no pop moderno e super-produzido do projeto. No primeiro clipe relativo a uma canção do disco, referente à ótima “Repeat Pleasure”, a primeira parte de uma trilogia de vídeos é apresentada, com a história se concentrando no cotidiano de um jovem casal e de um idoso moribundo.

Pearls Negras – Guerreira

O rap no Rio de Janeiro nunca havia ganhado tons tão orgânicos quanto com o trio Pearls Negras, que já começa a ser sucesso, inclusive, fora do Brasil. Com uma sonoridade envolvente e moderna, que mistura funk, hip hop e trap, é que as garotas apresentam o seu novo clipe, relativo à canção “Guerreira”. Ainda que os versos se apeguem às tradições do rap nacional, a produção se destaca pelo tratamento primoroso de sintetizadores.

Flying Lotus – Phantasm

De tão tosco, o novo clipe de Flying Lotus chega a ser interessante. Mostrando a interação de um holograma de um humano envolto em faixas e um ser peludo não-identificado, o vídeo acompanha, de forma curiosa, os rumos etéreos propostos pela canção. A música, aliás, faz parte do último trabalho lançado pelo músico, ainda em 2012.

Boogarins – Benzin

A ótima e emergente banda goiana Boogarins apresentou, através do canal “Is Your Claim in a Jam?”, uma nova canção, feita em parceria com seus conterrâneos da Carne Doce. “Benzin” se agarra aos flertes psicodélicos tradicionais da banda, porém com uma aproximação maior à música pop.

Sia – Chandelier

O que falar do novo clipe da cantora Sia? Simplesmente magistral! No vídeo, a dançarina Maddie Ziegler, de apenas 12 anos, torna-se a estrela-mor através de uma interpretação incrível, forte e emotiva, em que a atuação encontra, com primor, a dança moderna. Temos que, realmente, tirar o chapéu para a produção.

Ludov – Copo de Mar

O novo disco do Ludov, denominado “Miragem”, deve ser lançado no dia 22 desse mês. Para atiçar a curiosidade de seu público, a banda divulgou não apenas o primeiro single relativo ao novo trabalho, como também o primeiro clipe. Trazendo a canção “Copo de Mar” como trilha-sonora, o vídeo brinca com impressões geradas a partir de copos de vidro ora cheios, ora vazios de água. Simples, mas bem intrigante.

Clipes & Singles: Semana 14/2014

Clipes & Singles

Parquet Courts – Sunbathing Animal

O Parquet Courts é uma banda visivelmente emergente, que daqui algum tempo terá tudo para ser um dos novos nomes mais aclamados do cenário alternativo. Autores de “Light Up Gold”, o disco mais insano de 2012, os nova-iorquinos do Brooklin voltam com uma canção ainda mais anárquica: “Sunbathing Animal” é uma demonstração colossal de energia, uma exímia representante das surpresas que o punk rock ainda pode pregar nos ouvintes mais atentos.

Katy B – Still

Da urgência frenética do Parquet Courts para o recolhimento e a amargura de Katy B. Atualmente a artista mais aplaudida do pop eletrônico, a britânica de cabelos ruivos se entregou às suas tristes confissões no seu segundo trabalho, o elogiado “Little Red” – um disco que fez até roqueiros barbudos elogiarem um trabalho confessamente pop, eletrônico e de audição facilitada até mesmo para os seguidores de modismos. No clipe de “Still”, todo o teor intimista de “Little Red” é trazido à tona com assertividade, mostrando que os sentimentos mais íntimos podem, certamente, se agarrar a uma proposta musical mais comercial.

Sharon Van Etten – Taking Chances

Sharon Van Etten é uma artista que deve ser elogiada… Afinal, se a música folk se renovou e voltou a ser relevante, pulsante e nova, é devido a um time de novos artistas do qual a nova-iorquina faz parte. “Taking Chances” é um ótimo aperitivo do novo álbum que está por vir, já foi elogiada até nessa mesma seção do blog, mas por que um clipe tão ruim para uma canção tão certeira? Talvez a maior culpa nem caiba ao diretor do vídeo, Michael Palmieri, mas sim à própria Van Etten, que mesmo tendo dificuldade para atuar, exagera no “carão”.

Karine Carvalho e Bárbara Eugênia – Pessoa Loka

O que vocês andaram fumando, meninas? Algo lícito é que não deve ser, levando em consideração o vídeo lançado para “Pessoa Loka”. Mostrando uma faceta mais pop de Bárbara Eugênia – uma cantora que até agora estava mais ligada ao blasé (com “Journal de Bad”), ao brega (com “É o que Temos”) e ao folk (com o projeto Aurora) – a canção viaja no psicodelismo com um vídeo colorido e pra lá de doidão, do qual ainda participam Xico Sá, Tatá Aeroplano e Tulipa Ruiz. Se você lembrar do pop oitentista de Rita Lee, não estará pensando errado.

Lana Del Rey – Meet Me in the Pale Moonlight

Quando estreou pra valer com o disco “Born to Die”, Lana Del Rey não era nada além de um grande ponto de interrogação: quem ela era, para onde ela iria? Aos poucos, as dúvidas começaram a ser respondidas, e agora, em 2014, a moça prepara o que parece ser seu primeiro grande trabalho: o disco “Ultraviolence”. Produzido por Dan Auerbach, do duo The Black Keys, o registro já vem apresentando bons aperitivos – caso de “Meet Me in the Pale Moonlight” e seu bom passeio pelos anos setenta, que acaba lincando-a ao álbum “Random Access Memories”. Uma canção vintage e atual ao mesmo tempo.

Phillip Long – Tidal Wave

Se nos sete discos que já havia lançado o paulista Phillip Long já conseguia atingir com tudo a nossa alma, imagina agora, quando ele resolveu escrever inspirado pela banda The Smiths, e contando com uma produção mais crua? De fato, o músico parece rumar para seu trabalho mais intenso até aqui. Intitulado “A Blue Waltz”, e com lançamento previsto para o dia 7 de junho, o novo álbum acaba de ganhar mais um belo e convincente aperitivo com a bela canção “Tidal Wave”.

How to Dress Well – Repeat Pleasure

Outro grande trabalho esperado para o mês de junho é o novo álbum de Tom Krell no projeto How to Dress Well. “What Is the Heart?” deve apresentar uma nova faceta da música do produtor, e inseri-lo em uma posição de destaque dentro da cena pop atual. Com uma produção límpida, e uma grande condensação de gêneros e referências, o músico vem apresentando formidáveis facetas de seu novo trabalho… Enfim, é só clicar no play abaixo para perceber porque a crítica tem elogiado tanto os novos rumos artísticos do How to Dress Well.

Cloud Nothings – I’m Not A Part of Me

A música jovial (e noventista) de Dylan Baldi e da sua aclamada banda Cloud Nothings nunca foi tão bem representada: seja com o disco “Here and Nowhere Else” ou com o clipe do poderoso single “I’m Not a Part of Me”, as obsessões do músico encontraram uma morada perfeita, deixando bem claros quais são os conceitos do conjunto. No vídeo abaixo, uma festa íntima de garotas adolescentes acompanha com acerto os rumos energéticos da canção.

Jack White – High Ball Stepper

Quer ouvir guitarras? Mr. Jack White resolve a sua situação com um instrumental excepcional: “High Ball Stepper” é a primeira música a ser revelada do próximo disco do músico, “Lazaretto”, que terá a incumbência de suceder o clássico moderno “Blunderbuss”, de 2012. Pelo jeito, para sorrisos eternos da crítica e do público, esse novo trabalho será igualmente ótimo. Mais um para o mês de junho.

Leo Cavalcanti – Get a Heart

Ao se entregar à música pop, Leo Cavalcanti parece ter encontrado seu caminho, sua identidade sonora. Única faixa em inglês do competente disco “Despertador”, “Get a Heart” acaba de ganhar um icônico registro audiovisual, em que o músico interpreta a canção (da sua própria maneira) pelas paisagens de Berlim.

Clipes & Singles: Semana 12/2014

Clipes & SinglesPhillip Long – Don’t Forget the Chorus

Não chega a ser uma novidade, mas mesmo assim surpreende: o incansável Phillip Long já está trabalhando em seu oitavo disco. Sempre disposto a apresentar novas facetas de seu íntimo, o músico agora embarca em um conceito de produção mais cru, sem contar com a corriqueira colaboração de Eduardo Kusdra. “Don’t Forget the Chorus”, a mais nova canção a ser apresentada, exala sentimentos através de seus rumos melancólicos, alocando o compositor em uma atmosfera que ele conhece muito bem.

Kim Deal – The Root

A saída de Kim Deal da banda Pixies não chegou a ser uma grande surpresa para quem acompanha o grupo, visto que a musicista está há algum tempo com vontade de investir em outros projetos. Ao liberar “The Root”, com direito a um clipe pra lá de Lo-Fi, Deal mostra que não se desgarrou completamente da sonoridade que sempre envolveu a sua antiga banda, construindo, porém, um número muito pequeno e invariável.

Justin Timberlake – Not a Bad Thing

Um vídeo documentado, que mostra a busca por um rapaz que pediu a mão de sua namorada em casamento ao som de Justin Timberlake: nada melhor para acompanhar a trilha extremamente romântica da canção “Not a Bad Thing”, presente na segunda parte da última experiência do astro pop. Enquanto a “investigação” ocorre, casais são convidados a depor sobre o amor e o casamento. Meninas, se derretam. Rapazes, já vão se preparando.

S. Carey – Crown the Pines

“Renge of Light”, o segundo disco de S. Carey, está se tornando o lançamento mais aguardado de 2014. Por quê? Dê o play no vídeo abaixo e veja. Em meio a uma carregada base sentimental, uma explosão sonora faz com que os Beach Boys encontrem o Coldplay, para depois se fundirem a Bon Iver e tudo se ligar ao Radiohead. Se não bastasse, uma incrível concepção de efeitos luminosos cria o cenário perfeito para a complexa base sonora. Que clipe, meus amigos!

Móveis Coloniais de Acaju – De Lá Até Aqui

Retirado do primeiro filme da Móveis Coloniais de Acaju, o clipe da faixa-título do último disco da banda mostra o conjunto se apresentando em uma pista de skate. “Mobília em Casa” será lançado em abril, e mostrará o grupo em vários pontos de sua terra natal, o Distrito Federal.

Neneh Cherry feat. Robyn – Out of the Black

Número que reúne Neneh Cherry e Robyn, a canção “Out of Black” agora ganha o seu vídeo clipe. Faixa do último disco de Cherry, o surpreendentemente “Blank Project”, a canção parece ser uma ode ao pop escandinavo, encontrando em uma concepção colorida a morada de sua estrutura visual.

A Banda Mais Bonita da Cidade – Um Cão Sem Asas

Depois do conceito “fofo” do clipe de “Potinhos”, agora chegou a vez da Banda Mais Bonita da Cidade investir em uma produção audiovisual referente ao “Lado B” de seu último disco, “O Mais Feliz da Vida”. Como cenário para o vídeo de “Um Cão Sem Asas”, o setor militar urbano de Brasília foi escolhido, dando ainda mais significado à canção e transfigurando-a em um “hino de guerra”.

Black Lips – Justice After All

Seja no palco ou em uma rua vazia, o pessoal do Black Lips interpreta “Justice After All” com uma energia invejável. O clipe dá imagens a mais uma faixa do disco “Underneath the Rainbow”, lançado recentemente.

Céu – Amor de Antigos

O vídeo produzido pelo coletivo Enoá para a canção “Amor de Antigos”, faixa do disco “Caravana Sereia Bloom”, acaba de ser oficializado por Céu como clipe. Uma escolha certeira, visto à grande qualidade da produção.

Criolo – Duas de Cinco/Cóccix-ência

O clipe do último single de Criolo, que contém as canções “Duas de Cinco” e “Cóccix-ência”, é uma verdadeira superprodução. Mostrando o que seria a realidade de uma favela no ano de 2044, o vídeo retrata os avanços tecnológicos, mas a inércia da sociedade, que não consegue tirar dos subúrbios o seu errôneo cotidiano. Segundo o rapper, “a desgraça consegue ser mais rápida que a tecnologia. Agora cada bairro tem a própria Cracolândia em sua porta. Pensamos em 2044, mas isso chegou em três meses”.

2013: Seven – Phillip Long

Seven

Por: Renan Pereira

O número sete tem um significado especial para Phillip Long. Considerado sagrado e poderoso para o filósofo Pitágoras, o algarismo é carregado de simbolismos que são explorados pelo músico de Araras: “o número quatro, que simboliza a terra, associado ao três, que simboliza o céu, permite inferir que o sete representa uma totalidade em movimento ou um dinamismo total, isto é, a totalidade do universo em movimento”, diz o compositor em sua página do Tumblr. Chegando ao sétimo exemplar de sua discografia, Long vê suas possibilidades musicais aumentarem ao construir o que é, segundo ele próprio, o seu álbum mais eclético.

“Sobre o ‘Seven’, bem, ele caminha por outros rios, sua veia é bem diferente e eu o considero o trabalho mais expansivo meu. Há folk porque o folk é a fonte de tudo em mim, minhas raízes espirituais, mas há também essa dança com elementos distantes desse universo”, revelou Long em entrevista concedida ao blog em dezembro. Talvez por encarar os significados místicos do número sete, o músico tenha deixado para o seu sétimo disco suas concepções mais comunicativas. Ainda que represente sentimentos íntimos de seu criador, “Seven” sabe dialogar com o mundo e suas diversas facetas.

Lançado às sete horas do dia sete de dezembro, e contendo sete faixas, o novo disco de Phillip Long se comporta como um exercício de descoberta. Embora façam falta, os acordes acústicos se tornam mais discretos para que o músico encare mais um certeiro capítulo de evolução. Cada vez mais maduro, sentindo-se livre dentro de sua própria atmosfera, Long faz suas palavras flutuarem pelas sete canções do álbum em um sentido pleno de aventura. Mesmo que não trombe com o desconhecido (ele conhece muito bem o chão sobre o qual está pisando), o ararense topa uma viagem que ainda não havia percorrido. Sorte de seu público fiel, que já acostumado com o grande número de lançamentos, é acariciado com mais um aspecto sonoro de uma das maiores revelações da música brasileira.

“Closer to God”, a primeira faixa, já acaba deixando claro o teor “expansivo” de “Seven”: a lírica se mantém intimista e sentimental, mas os rumos instrumentais aumentam em poder com um tratamento épico inserido pelo produtor Eduardo Kusdra. Toques de rock progressivo, flertes com sintetizadores, harmonias cativantes e o clima matinal de sempre acabam envolvendo, com assertividade, o início do disco. Exercício que é contemplado pelo cenário roqueiro de “End of the Line”, utilizando mais do que nunca as referências que Long mantém nas obras setentistas de Neil Young. Uma revisitação a velharias, mas que não significa um resultado necessariamente retrógrado: é com a música do passado que Long sempre almejou o futuro.

A guitarra do músico holandês Anand Mahangoe explode em “Living on the Edge”, faixa que mostra o vocal de Phillip Long inserido em um cenário completamente novo, e talvez por isso, nesse primeiro momento, mais tímido do que o exigido pelo peso das guitarras… Algo totalmente normal e compreensível em um disco de descobertas. Da mesma forma que os mestres do folk tiveram que readequar seu vocal quando se aventuraram por rumos elétricos, Long traz nesse ponto um grande desafio. Porém, é sempre louvável quando um artista insiste em sair da zona de conforto, se arriscando para se superar, e nisso Phillip Long se mostra um mestre. Sua música nunca foi “o mesmo folkzinho de sempre”, e “Seven” parece demonstrar isso com perfeição.

“Wild Thing”, por exemplo, extrapola até mesmo as barreiras da música folk; se comportando como um bom pop-rock dos anos noventa, a canção traz nos bonitos arranjos instrumentais um complemento assertivo para uma letra especialmente grudenta, comercialmente viável, mesmo que passe longe de soar descartável. Sim, o mercado brasileiro está tomado por uma música de baixíssima qualidade, e disso já estamos cansados de saber… Mas como negar que algumas canções de “Seven” se mostram um prato cheio para as rádios? Talvez, em uma outra época, Phillip Long poderia ser até um “artista pop”.

Como um genuíno moço do interior, Long nunca deixou de incorporar os sentimentos do campo às suas canções; e é abraçando o country, soando mais caipira do que nunca, que o músico constrói em “Insane” mais um ponto de acerto, um pequeno retorno às raízes em meio a tantos voos. E é com um bom blues que ele volta a voar em “Devil’s Line”, canção em que deixar de destacar a formidável performance de Eduardo Kusdra nas guitarras seria um grande pecado.

Se a mesma carga sentimental de “Gratitude” ainda não havia envolvido “Seven”, o melhor acaba ficando para o fim. Uma daquelas canções que tocam a alma sem pedir licença, a belíssima “Naked As the Rain” condensa todos os novos caminhos do disco em uma base incrivelmente emotiva, em que a voz de Phillip Long e o contundente conjunto de sintetizadores trabalham naturalmente para massagear nossos ouvidos… É claro que a gente tenta, ao máximo, não utilizar jargões, expressões prontas, mas como não afirmar que “Seven” é fechado com chave de ouro?

Definitivamente, Phillip Long está pronto para voar ainda mais alto. Embora ele seja um músico muito ligado às raízes, e ainda se mostre mais à vontade com conceitos mais simplórios, suas possibilidades têm aumentado rapidamente. É até difícil pensar que, em 2011, o cara que hoje elabora discos como “Seven” e “Gratitude” lançava o tímido “Man on a Tightrope” como o primeiro trabalho da carreira. Se o tempo passa, se os anos vêm e vão em uma velocidade cada vez maior, ele parece passar ainda mais rápido para Phillip Long. Em pouco tempo, ele deixou de ser apenas mais um iniciante para se tornar um dos grandes compositores do cenário nacional.

NOTA: 7,7

Track List:

01. Closer to God [05:31]

02. End of the Line [04:47]

03. Living on the Edge [04:37]

04. Wild Thing [04:15]

05. Insane [04:13]

06. Devil’s Line [03:52]

07. Naked As the Rain [04:51]

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Lista: Os 30 Melhores Álbuns Nacionais de 2013 [30-21]

Os 30 Melhores Álbuns Nacionais de 2013

[30-21] [20-11] [10-01]

Sina30. Sina – The Baggios

Gênero: Blues-Rock

“Sina”, segundo disco do The Baggios, é um disco feito para quem gosta de pegar a estrada e comer poeira. Novamente encarando uma epopeia sertaneja, a banda formada pelo guitarrista e vocalista Júlio Andrade e pelo baterista Gabriel Carvalho volta a fazer o nordeste pegar fogo não apenas devido ao eterno verão, mas pelo som pesado que o blues-rock do duo sergipano consegue emanar. Com guitarras quentes, baterias pesadas e uma base sonora clássica, mas que, apesar de antiga, consegue atrair a todo momento, o The Baggios constrói um ponto de evolução na sua carreira, bem como arquiteta um espaço na música brasileira que é somente seu.

Por quê? Talvez pelo fato do The Baggios ser uma das poucas bandas brasileiras que conseguem transformar as mais antigas ideias do rock norte-americano em algo novo e brasileiro. Ao embarcar na viagem proposta por “Sina”, o ouvinte não embarcará, portanto, em uma adaptação meramente copiosa da sonoridade dos grupos clássicos de blues-rock. De forma magistral, Andrade e Carvalho inserem as raízes musicais do Estados Unidos em um cenário legitimamente nordestino.

Como acompanhamento para essa viagem pelos cenários arenosos do sertão, uma musicalidade intensa que apenas em poucos momentos se abranda. Pinceladas de ritmos nordestinos e um vocal repleto de sotaque fazem com que o ouvinte até encare pequenas lembranças de Raul Seixas, mas, no fundo, “Sina” é um disco marcado pelas novas possibilidades. É como se uma velha maria-fumaça levasse seus passageiros a lugares até então inabitados pela música tupiniquim.

O Passo do Colapso29. O Passo do Colapso – Dado Villa-Lobos

Gênero: Rock Alternativo

Dentre os grandes nomes rock oitentista nacional, Dado Villa-Lobos é o que parece resistir melhor à passagem do tempo. Mais do que isso, o instrumentista parece fazer da experiência que carrega uma fundamental aliada, utilizando-a como um incentivo para que sua música soe contemporânea, e não apenas uma rasura daquilo que ele desenvolvera, com muitas glórias, dentro da banda Legião Urbana. As heranças do passado ainda se fazem presentes, é evidente, mas apenas servindo de base para um trabalho expansivo. Evolução do que o músico havia ensaiado em 2005 com “Jardim de Cactus”, seu primeiro álbum em carreira solo, “O Passo do Colapso” é a reafirmação natural de um músico que está distante da aposentadoria.

Se poucos são os antigos roqueiros que ainda mantém a qualidade criativa intacta, cabe a Dado agradar um público exigente que às vezes até pensa que o rock brasileiro já morreu. Topando manter viva a chama que brilhara tanto com o Legião Urbana, quanto com outros grupos de destaque, como Titãs, Paralamas do Sucesso e Engenheiros do Hawaii, o guitarrista não mede esforços para construir um trabalho especialmente coeso, que possa flertar com os anos oitenta sem abandonar a segunda década do século XXI. Sabendo amarrar todas as suas referências em canções que se expandem, mas que mantém a unidade do disco, Villa-Lobos, ao contrário de muitos de seus contemporâneos, consegue manter o mesmo respeito que detinha nos áureos tempos do chamado “BRock”. O tempo pode até ter passado, mas ele mostra se manter entre os melhores músicos deste país.

Tanta vivacidade e conhecimento musical fazem com que guitarras soem livres pelo trabalho, abertas a diversas possibilidades, não se prendendo apenas aos ruídos que vem acompanhando o artista há tanto tempo. Apesar de conter uma intensidade natural, “O Passo do Colapso” sabe serenizar-se quando necessário, mantendo o ouvinte atento a um jogo que, apesar de constante, sabe se enveredar por diferentes caminhos… Nada daquele rock velho, desbotado, empoeirado e cheirando a mofo, mas uma sucessão excitante de canções que sabem soar cronologicamente plausíveis. Não existe uma época certa para a música de qualidade, e com “O Passo do Colapso” Dado ajuda a nos mostrar a verdade que existe nessa afirmação: afinal, seu trabalho se mantém bom como sempre foi.

As Plantas que Curam28. As Plantas que Curam – Boogarins

Gênero: Rock Psicodélico

Ainda que alguns possam dizer que Fernando Almeida e Benke Ferraz são os “novos mutantes”, pouco do que foi desenvolvido nos anos sessenta pela banda de Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee assume um sentido de cópia nas mãos da banda Boogarins. Embora as referências dos Mutantes se espalhem naturalmente por todo o trabalho da banda goiana (assim como ocorre em qualquer outro grupo brasileiro que se atreva a fazer rock psicodélico), “As Plantas que Curam”, o primeiro álbum do duo, parece fadado a transformar o que era antigo em algo inegavelmente atual. É como se as distorções, as vozes instrumentais e todos os demais elementos das viagens lisérgicas assumissem um significado de novidade, musicando entre prédios e trânsito pesado o que era antigamente simbolizado através de roteiros fantásticos.

Nas mãos de Almeida e Ferraz, o “país dos baurets” se torna, nada mais nada menos, que o nosso Brasil. Referências tupiniquins jorram por todo o registro, encontrando no tropicalismo de décadas atrás o ponto de partida para a construção de novas concepções. Seja com vocais tortos, ruídos ou solos de guitarra que tendem ao épico, os jovens goianos tecem uma teia pegajosa, capaz de captar a atenção até mesmo do ouvinte menos acostumado aos rumos sonoros lisérgicos. Se você sempre quis conhecer a fundo a obra do Mutantes, mas nunca teve coragem, saiba que “As Plantas que Curam” se comporta como uma boa porta de entrada.

É provável que essa sonoridade propicie uma “primeira experiência” justamente porque Almeida e Ferraz souberam captar as ideias plantadas pelos australianos do Tame Impala. Depois da louvação alcançada pelo disco “Lonerism”, e a consequente mudança das regras do rock psicodélico, saber amarrar as referências chapadas à música pop tornou-se um norte a ser seguido… Afinal, nem todo mundo quer sair fumando por aí só para poder entender um disco, não é? Ciente de que o movimento hippie se exauriu há um bom tempo, o Boogarins aduba suas ideias a fim de atingir em cheio essa nova legião de ouvidos.

Feras Míticas27. Feras Míticas – Garotas Suecas

Gênero: Indie Rock

É o crescimento a grande marca do segundo disco da banda Garotas Suecas. Redefinindo os caminhos do grupo, “Feras Míticas” chega para se caracterizar como o marco de amadurecimento do coletivo que, nos últimos anos, tem chamado a atenção do público e da crítica por mesclar de forma consistente o rock, o soul e o funk de décadas passadas. Embora a base sonora continue a mesma, há agora um claro desejo de ir além: os aspectos festeiros que envolviam “Escaldante Banda”, o primeiro álbum do coletivo, foram convertidos em criações maduras e mais abrangentes.

Em suma, não há mais nenhuma música que exija um vídeo com a participação do dançarino Jacaré. Apesar de assertivas, canções como “Banho de Bucha”, “Mercado Roque Santeiro” e “Olhos da Cara” apresentavam uma proposta juvenil, quase adolescente, construindo-se através de instrumentais alegres e versos de fácil apelo. “Escaldante Banda” foi uma boa estreia, mas para passar no famoso teste do segundo álbum, a Garotas Suecas deveria evoluir; obviamente, em três anos as concepções festivas deveriam crescer para algo maior.

E é justamente essa evolução a grande proposta da banda em “Feras Míticas”. Passeando por um conjunto dinâmico de canções, o grupo vai claramente aumentando o seu leque de possibilidades, nos entregando aspectos intimistas, existencialistas e até mesmo conceituais. Mesmo que de forma tranquila, a celebração de outrora vai se transformando em seriedade e melancolia. (Leia a resenha completa do disco)

Tudo Começou Aqui26. Tudo Começou Aqui – Ana Larousse

Gênero: MPB/Folk

Sentimento do início ao fim. São composições íntimas, que jorram delicadeza e talento, que constroem o primeiro álbum da curitibana Ana Larousse. Ambientado nos cenários da chamada “nova MPB”, o registro é uma deliciosa audição de temas que desafiam os jovens do nosso tempo; a solidão, a saudade, a tristeza da partida e até mesmo o bucólico cotidiano são peças-chave do conjunto de canções apresentado pela cantora, obtido em grande parte durante os cinco anos em que ela morou na França, e basicamente refletindo suas experiências de vida.

Com produção assinada pelo músico Rodrigo Lemos (A Banda Mais Bonita da Cidade/Lemoskine), o álbum brinca com o ouvinte ao mesclar números simplórios com outros que tendem ao épico, sendo que, nesta dualidade, mora o que poderia ser a grande escorregada da estreia de Larousse, mas que acabou se concretizando como o grande acerto do disco. Fugindo do lugar-comum, não é raro perceber no registro certos toques da música grandiosa de grupos como Beach Boys e Pink Floyd, bandas extremamente cultuadas em terras tupiniquins, mas que encontram nos receios dos músicos daqui um obstáculo para inspirar a MPB. Em um momento em que querer fazer algo de proporções épicas dentro da música indie acabou se tornando, no senso-comum, algo de mau agouro, Lemos e Larousse não escondem suas referências e preenchem “Tudo Começou Aqui” com alguns números primorosos, injetando a força do rock clássico nas concepções íntimas, caseiras, que parecem ter saído do quarto da compositora.

Concretizando-se como um belo conjunto de sensíveis canções, “Tudo Começou Aqui” acaba se mostrando, enfim, um ótimo registro de estreia, unindo tudo o que Ana Larousse fizera nos últimos anos e a levaram a ser considerada um dos nomes mais promissores da MPB. E embora o disco não seja, como um todo, um registro necessariamente surpreendente, prende o ouvinte do início ao fim, com muito talento e muita sutileza ao tratar de sentimentos íntimos. Afinal de contas, Larousse não se apega apenas ao introspectivo, e faz com que suas composições não se tornem “tão sobre si própria” que não atinjam os ouvintes… Ela sabe como, mesmo apenas prendendo-se às suas experiências de vida, fazer com o seu público se torne parte integrante do registro, a partilhar com ela suas aflições. (Leia a resenha completa do disco)

Pequenas Margaridas25. Pequenas Margaridas – Nana

Gênero: Indie Pop

Se a partir de “Pequenas Margaridas” Nana deseja cultivar um colorido jardim, as primeiras flores já estão desabrochando. Repleto de sutileza, introspecção e doçura, o primeiro disco da cantora baiana, homônimo a um filme de 1966 dirigido por Vera Chytilová, se comporta como a explosão sentimental mais genuína possível de uma garota que tem pouco mais de dois anos de carreira. Naturalmente íntimo, composto inteiramente no quarto da musicista, “Pequenas Margaridas” nos leva ao universo particular da jovem, enaltecendo seus pensamentos e suas amarguras.

Surpreende a forma com Nana conseguiu bordar, com excelência, um conjunto recheado de versos sutis e belíssimos arranjos sintéticos. Construído com a intenção de não soar robótico ou superproduzido apesar de sua base eletrônica, o registro parece dar um novo significado à forma como os loops e samplers são tratados pela música Lo-Fi no Brasil. Há muita gente hoje em dia criando canções em seu próprio computador, dominando com primor as possibilidades dos mais diversos softwares de manipulação, mas poucos parecem conseguir afastar as bases programadas de um sentido de artificialidade. Nana, ao contrário, faz dos rumos eletrônicos apenas um acompanhamento para suas letras sensíveis.

Tão doce quanto o trabalho atual de cantoras como Tulipa Ruiz, Mallu Magalhães e Céu, “Pequenas Margaridas” pinta com cores vivas o cenário acinzentado em que se encontram os sentimentos de Nana. O jardim da cantora é plantado em um sentido de libertação que apenas se torna perceptível quando a obra toda é experimentada e revista: é como se retratos em preto e branco fossem pintados pela mais colorida mistura de tintas, procurando dar um significado positivo às aflições.

Sacode24. Sacode – Nevilton

Gênero: Pop Rock

Brinque, pule, grite, agite… sacode! Nada daquele teor sorumbático que permeia a maioria das produções nacionais da atualidade, e sim um toque festivo e despreocupado, pronto para as rádios, os shows e as festas. Um disco que simplesmente quer fazer você dançar, sem querer ser conceitual ou complexo. Um disco de base simples, fácil de ser ouvido, e oferecido para todos os públicos. Para tanto, a banda Nevilton não poupa a utilização de melodias atraentes e ritmos quentes, jogados em um sentido de total descontração, que a capa de “Sacode” e seu próprio título já parecem deixar bem esclarecido.

Por mais que existam alguns versos amargos dentro de “Sacode”, é o clima de celebração que constrói o segundo álbum do trio de Umuarama. Mantendo o nível apresentado em seu primeiro disco, o grupo volta a entornar em instrumentais excitantes um jogo lírico formidável, uma poesia bem-humorada e pueril que parece jogar para escanteio o teor “conceitual” que, na maioria das vezes, é erroneamente utilizado. Pense naqueles discos complexos, difíceis de digerir, que seu colega insiste em elogiar mas que você não tem paciência nenhuma de ouvir… Pois “Sacode” é totalmente o oposto disso. É um disco que atrai a todo instante, e que não agradará o mais chato de seus amigos por ser de um “pop confesso”. Se ele é pop, o que há de mal nisso? Melhor um bom disco de música pop na mão do que dois álbuns inteligíveis do Yes voando.

Saiba você, fã do Los Hermanos, que é da banda carioca que o Nevilton empresta muitas das bases de seu som. Mas como assim? Não era “Sacode” o oposto do “mimimi conceitual” que surgiu na música brasileira após o lançamento do clássico “Ventura”? Ser inegavelmente pop não significa ser, ao mesmo tempo, fraco musicalmente, ora bolas. Até quem estaciona somente nas bandas clássicas, como Led Zeppelin e Black Sabbath, verá em “Sacode” uma arquitetura atraente de arranjos instrumentais, com a guitarra de Nevilton de Alencar perfazendo uma fantástica atuação.

Umbra23. Umbra – Herod

Gênero: Post-Rock

A banda Herod mudou. Hoje é um quarteto, e o antigo nome Herod Layne foi diminuído. Uma mudança certeira, visto as modificações sonoras que envolveram o grupo. As inspirações no Pink Floyd, que ficavam claras até mesmo no nome da banda, ainda se fazem presentes, mas escondidos em meio a sonoridades especialmente densas. “Umbra” é uma porrada musical, um álbum tenebroso e intrigante, que oferece ao público um dos mais surpreendentes discos dos últimos anos.

“Umbra”, em latim, significa “escuridão e sombras”. Nenhum título seria tão significativo para o álbum quanto esse. Aterrissando em um cenário obscuro e dolorido, o quarteto ergue imensos paredões sonoros, repletos de distorções e grandiosidade, para depois derrubá-los. Uma bola de demolição é guiada pelos instrumentais pesados, que flutuam entre o passado do post-rock e toques inventivos, para que toneladas de concreto atinjam não apenas os ouvintes, mas os próprios integrantes da banda. Propondo a desconstrução de uma engenharia musical, Sacha, Lippaus, Elson e Johnny vagam pelas incertezas, por medidas adimensionais, pautando no desiquilíbrio sonoro e emotivo os rumos tortos de seus instrumentais.

Enquanto a presença de Joaquim Prado ecoa por diferentes pontos da obra, Cadu Tenório se responsabiliza pelos efeitos sonoros da primeira faixa, Filipe Albuquerque empresta seu vocal melancólico e Jair Naves grita quase sem voz. Muito mais do que a demonstração musical de um quarteto, “Umbra” cresce com suas participações especiais, passando a contar com mais alguns braços para pregar a demolição. A intenção é, afinal, acabar com tudo: dar fim às estruturas e à luz. O ouvinte é preso em um local escuro e apertado, e que a todo instante está propenso a solavancos, verdadeiros espancamentos sonoros.

Ainda Bem que Segui as Batidas do Meu Coração22. Ainda Bem que Eu Segui as Batidas do Meu Coração – Rael

Gênero: Pop Rap

É impressionante o modo como Rael consegue fazer de sua música uma concepção altamente expansiva. Tratando dos mesmos experimentos que haviam construído “MP3 (Música Popular do 3º Mundo)”, em um exercício pleno de continuação, o músico paulistano novamente se afasta das batidas inorgânicas que muitas vezes suportam o hip hop para beber intensamente das raízes tropicais, passeando livremente pelos aspectos mais tradicionais da música brasileira. Como se comportasse como uma versão mais simplória dos tons pretensiosos de Criolo no clássico “Nó na Orelha”, “Ainda Bem que Segui as Batidas do Meu Coração” é um disco que visita novos horizontes, encarando a sociedade de uma forma mais universal, mas que não afasta Rael de sua própria aldeia. Se ele sai da periferia, é apenas para experimentar uma linguagem mais acessível, que consiga passar seu recado com maior acessibilidade, voltando seu olhar para o grande público.

Ainda que os mais puristas possam considerar a expansão do território do rap nacional como “a traição de um movimento”, prender o gênero dentro das fronteiras da periferia seria restringir o seu poder de comunicação. Se hoje o hip hop brasileiro se encontra em seu ápice criativo, é porque artistas como Emicida, Rashid, Criolo e o próprio Rael conseguem conversar com toda a sociedade, detendo o poder de atingir o público do Oiapoque ao Chuí. E “Ainda Bem que Segui as Batidas do Meu Coração”, como um dos melhores exemplos do bom momento que o rap nacional atravessa, viaja com louvor por diversas referências da música para que, no fim das contas, uma linguagem universal seja atingida.

Se são as batidas do coração de Rael que dão as ordens, nada melhor do que a utilização de uma base orgânica para representá-las. Muito distante das mesmices do rap, o músico sente-se à vontade para flertar com a música pop. Batidas próximas do R&B se espalham por todo o registro, em comunhão com a exploração de vertentes tupiniquins, como o samba e a própria MPB. Uma aventura assertiva, que só faz “Ainda Bem que Segui as Batidas do Meu Coração” se comportar como um clássico da música urbana brasileira.

Gratitude21. Gratitude – Phillip Long

Gênero: Folk

Phillip Long tem apresentado um visível esforço para amadurecer rapidamente. São dois anos de carreira em estúdio, e uma discografia que já se mostra volumosa: um conjunto de seis álbuns, sendo quatro lançados no ano passado. Com isso, o músico paulista, natural de Araras, vem conseguindo atrair um bom número de audições através de um volumoso catálogo de composições; canções deliciosamente simples, intimistas e bucólicas, perfazendo arranjos acolhedores que atraem a partir de concepções diretamente ligadas ao folk de décadas passadas.

O grande risco que se corre ao lançar seguidos discos em um curto intervalo, porém, é não dar o tempo necessário para que as ideias amadureçam. Talvez demasiadamente ansioso, Long primou pela quantidade, entregando ao público trabalhos bons, é verdade, mas de uma crueza gritante; claramente, seu discos poderiam soar muito mais atraentes se melhor amadurecidos. Agora, felizmente, o músico parece ter se convencido de que chegou o momento para consolidar de uma vez por todas a sua base musical, apresentando-nos o que é, até agora, seu disco mais maduro e consistente. ”Gratitude” parece ser um marco na obra artística do compositor, e embora se agarre ao mesmo conceito dos trabalhos anteriores, diferencia-se por soar mais refinado, melhor trabalhado.

A música de Phillip Long é serena, e se prende com tudo aos detalhes, procurando abordar constantemente o íntimo de seu criador. “Gratitude”, como não poderia deixar de ser, transparece-se confessional a partir de uma forte carga de emoções. É como se o ouvinte fosse convidado a visitar a casa do músico, e com ele partilhar o cenário íntimo e bucólico expressado pela capa do disco; um proveitoso passeio, em que as confissões de Long mostram-se tão doces e singelas quanto o filhotinho aos seus pés do compositor. (Leia a resenha completa do disco)

Entrevista: Phillip Long

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Por: Renan Pereira

Em sua nova fase, o RPblogging está expandindo seus horizontes. O que era, no passado, apenas uma coleção de resenhas, está aos poucos, enfim, se tornando algo mais abrangente. Estava mais do que na hora de tentarmos algo maior, uma entrevista com um artista que admiramos… E o primeiro nome que nos veio à mente foi o de Phillip Long. Por quê?

Phillip Long é um operário da música, como escreveu com assertividade o crítico Iberê Borges para o site Move That Jukebox. Um trabalhador: escreve músicas e as lança, dando oportunidades iguais para todas as composições, e não negando ao público a afável experiência que é a audição de seus mais íntimos sentimentos. Pois mesmo se transformando em matéria-prima de sua obra, Long consegue atingir em cheio as emoções do público.

Autor de sete discos (o último, “Seven”, acabou de ser lançado), Phillip Long foi o convidado para a primeira entrevista do RPblogging. Convidado por e-mail, topou logo de cara a ideia, sempre se mostrando disponível. Ele, indubitavelmente, gosta de escrever… E mais do que simplesmente gostar, mostra que sabe como fazer. Tão cuidadosas e sensíveis quanto suas canções, suas respostas a nossas perguntas soam como um complemento da sua poesia.

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Você lançou o seu primeiro disco, “Man on a Tightrope”, em 2011. O que mudou no Phillip Long de lá até aqui?

Tanta coisa. Musicalmente falando, eu acho que agora conheço melhor os caminhos e atalhos dentro desse lance de escrever sobre o que a gente vive, meu tato sobre as coisas que me cercam e me atingem estão melhores. E há também essa mudança de vida, das coisas que a gente vai experimentando ao longo dos dias, que vão mudando a gente a cada passo. Eu ainda sei tão pouco de mim e ao mesmo tempo um pouco mais do que eu sabia. Sigo me investigando e investigando a vida, sou tão grato por poder fazer música sobre mim e sobre a vida e as pessoas se reconhecerem nisso tudo.

Hoje você é um músico respeitado no círculo alternativo, com um público fiel que só tem aumentado. Mas é claro que nem sempre foi assim. Como foi o seu começo como músico, e quais foram as dificuldades enfrentadas até se tornar um nome relativamente conhecido?

O começo foi despretensioso como é até hoje, eu gravo canções e as coloco no mundo. Cada movimento a partir disso é uma dádiva, é uma dádiva fazer música, em um mundo onde passamos a maior parte de nossas vidas pulando de instituições para instituições, em busca de qualquer espécie de segurança e estabilidade ilusórias, onde a gente morre antes de mesmo de respirar, fazer algo que seja natural é uma dádiva. As dificuldades são as dificuldades de sempre para todos que fazem música autoral nesse país, falta de estrutura, falta de grana, falta de espaço e etc. Eu andei muito pessimista com esse assunto há um tempo atrás, por que no fim das contas a gente quer seguir produzindo, aí você lança um disco e vê que algumas pessoas se identificam com aquilo e você pensa que o que importa mesmo é tocar as pessoas, se em meio a tanta adversidade a música faz sentido pra alguém já valeu a pena.

Qual foi o momento em que você teve a certeza de que fazer música era o que você queria para o seu futuro?

Até me mudar para Porto Seguro por volta de 2002, eu não tinha a menor ideia de que um dia viria a escrever canções. Eu sofri um choque cultural e acabei me interiorizando muito. Não ia para o colégio e ficava observando o mar, foram tempos dificeis, foi aí que eu comecei a escrever canções sobre as coisas que eu sentia, foi a forma que eu encontrei de lidar com minhas neuras, meus desajustes e etc. Não demorou muito a partir daí perceber que isso era a única coisa que eu sabia fazer direito, não algo pensado, só aconteceu como o universo quis.

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Creio que para você, assim como para a grande maioria dos novos músicos da cena alternativa, a internet tem sido uma grande aliada. A sua participação em projetos da Musicoteca certamente teve um papel fundamental… Há, porém, quem não vê com bons olhos o compartilhamento gratuito de músicas na internet. O que você diria a essas pessoas?

Se você é um músico independente não há como ignorar a internet, é a única ferramenta disponível para divulgação do trabalho, ou você aprende a lidar com isso ou você está morto. A rede tem sido a única ferramenta de divulgação que possuo desde o começo, e tem sido assim.

Através de seus discos, percebe-se uma evolução constante. Só que seu senso artístico foge um pouco do convencional: de 2011 para cá, já são sete álbuns de estúdio – o sétimo, “Seven”, acabou de ser lançado. Você atribui essa grande quantidade de lançamentos à ânsia de evoluir, de crescer musicalmente?

Então, eu verdadeiramente não sei dizer se trata de uma ânsia por evolução. Tudo foi muito natural sempre, eu escrevo muitas canções, a maior parte do tempo é isso que faço. Lógico que a cada passo sinto que meus sentidos melhoram, hoje sei melhor como me mover dentro de uma canção, como transmitir a minha mensagem, mas acho que no fundo o lance da produção desenfreada vem do fato de que não fecho as portas para nenhuma canção. Elas me aparecem e eu dou voz a elas.

As principais influências da sua música são claras: grandes nomes da música folk de décadas atrás, como Bob Dylan, Nick Drake, Neil Young… Ou seja, velharias. Alguém mais que você possa acrescentar? Algum artista mais atual?

Eu realmente sou muito apegado à velharias, e isso vem desde muito cedo. Acho que eu poderia acrescenter uma infinidade de velharias que fazem parte de mim. Cohen é um sujeito que me influencia muito, Tom Waits, Joni Mitchell, Cat Stevens, Paul Simon, Bruce Springsteen, tanta gente. Dos artistas mais atuais, Fleet Foxes me atinge muito, que é uma banda que também soa como velharia e que fala muito minha língua.

Meses atrás, consideramos “Gratitude”, o seu sexto disco, o melhor momento da sua carreira até agora: é um disco especialmente intimista, mas que mesmo assim consegue atingir em cheio as emoções do público. O que podemos esperar agora de “Seven”? O que se ouve é um trabalho um pouco diferente…

Fico profundamente feliz em saber disso. O “Gratitude” é um disco muito significativo pra mim e é uma honra que vocês o considerem o melhor momento de minha carreira até agora. Sobre o “Seven”, bem, ele caminha por outros rios, sua veia é bem diferente e eu o considero o trabalho mais expansivo meu. Há folk porque o folk é a fonte de tudo em mim, minhas raízes espirituais, mas há também essa dança com elementos distantes desse universo. Acho que vocês podem esperar do “Seven” mais uma faceta da minha alma e da minha vida, continua sendo um disco que aborda temas extremamente pessoais e sinceros.

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Algo muito interessante que vejo nessa nova geração de compositores é a vontade de colaborar, de participar de projetos de terceiros, perfazendo uma ajuda mútua. Você tem no Eduardo Kusdra um grande colaborador, e nomes como Phil Veras, Laura Wrona e Scott Thunes participaram de “Gratitude”. “Seven” traz novas colaborações? Planeja fazer alguma participação no trabalho de um outro artista?

O Eduardo é meu irmão de estrada e de vida, nós temos trabalhado juntos há tanto tempo e nossa ligação é profunda. Eu sempre tive muita sorte em poder contar com pessoas incríveis em meu trabalho, minha gratidão é máxima. No “Seven” eu conto com a participação do Albino Intantozzi na bateria, um dos maiores bateristas desse país. Além dele, o guitarrista holandês Anand Mahangoe participa da faixa “Living On The Edge”, foi uma enorme honra pra mim, o cara é incrível. E há também há a participação da cantora independente Maria Eliza nos backing vocals e duetos, que sempre foi uma grande parceira do meu trabalho. Eu estou sempre disposto a participar de projetos dos artistas que admiro, no momento não há convite algum.

Em entrevista recente ao Jardim Elétrico, você se queixou do modo com que os artistas independentes são tratados pelo mercado aqui no Brasil. Como isso pode ser melhorado? Talvez com uma maior união entre os músicos independentes?

Quando você começa a entrar na cena, você começa a descobrir que os músicos são a escala mais baixa nessa estrutura toda. Ao músico cabe o sacrifício e nada mais, o que é muito simples de se levar para a indústria, já que a doação é algo inerente ao criador, nós seguimos doando. Afinal, o músico independente precisa se mostrar e não se alimentar, aliás, todas as pessoas do mundo precisam do espetáculo e não de alimentação, essa é a lei. Como isso pode ser melhorado? Com sensibilidade, acredito, veja, é preciso que haja reciprocidade em tudo. Tratar um sensível com o mínimo de sensibilidade também, equilibrar as coisas, o artista se compromete, a indústria se compromete, as coisas se equilibram. Sobre a união artística, Van Gogh tentou isso com a casa Amarela, não deu muito certo, o ego sempre acaba por mostrar sua cara.

Você anunciou em seu Facebook, há pouco tempo, que em 2014 esterá lançando um disco com versões dos Smiths. O que te levou a planejar este trabalho?

Morrisey tem sido um guia espiritual há tanto tempo. O trabalho dele tanto nos Smiths quanto solo nos atinge profundamente.

O RPblogging agradece imensamente sua participação nessa que é a primeira entrevista do blog. Gostaria de deixar um recado final para os leitores?

Quem agradece sou eu, pela oportunidade de mostrar minhas impressões sobre as coisas que me cercam. Para todos aqueles que dançam com meu trabalho, minha gratidão máxima.

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Créditos:

Perguntas: Renan Pereira.

Respostas: Phillip Long.

Fotos: Christian Camilo, Leonardo Araújo e João Wolf.

Clipes & Singles: Semana 46/2013

Clipes & Singles

Sim, às vezes ela até parece que não virá, mas independente de qual semana se trata, ela sempre aparece. Quem é? A nossa seção “Clipes & Singles”, é claro. Impulsionados pelo retorno da britânica Lily Allen, surgimos com um novo resumo das canções da semana, compartilhadas, dessa vez, entre os dias 11 e 15 de novembro de 2013.

Phillip Long – End of the Line

Fim da linha? Que nada! Phillip Long continua sua produtiva carreira musical a todo vapor. Prestes a lançar o seu sétimo registro em estúdio, o músico paulista não cansa de apresentar novas texturas musicais a seu público que cada vez cresce mais. Faixa do disco “Seven”, “End of the Line” aumenta as possibilidades sonoras propostas pelo compositor, sempre íntimo da música folk e do country rock, mas claramente disposto a evoluir.

Stephen Malkmus & The Jicks – Lariat

Stephen Malkmus é um cara que sempre tem cartas na manga. Um pouco de sua imensa originalidade pode ser observada em seu novo clipe junto ao The Jicks, “Lariat”. Envolvida em arranjos simples, refletindo o “indie rock clássico” que o músico vem construindo a algum tempo, a canção encontra novos ouvidos em uma primeira experiência. Refletindo as emoções de uma primeira audição, a canção deve (e não à toa) conquistar quem a ouve pela primeira vez.

Blood Orange – Time Will Tell

Eis que, no finzinho do ano, surge um dos mais surpreendentes discos de 2013. Afinal, como não abrir o bocão com a admiração certa ao ouvir “Cupid Deluxe” e sua verdadeira ode à música negra norte-americana? Passeando por nomes como Michael Jackson, Prince e Lionel Ritche, o produtor acabou fazendo de seu novo registro uma audição imperdível. E com tantas inspirações oitentistas, por que também não abusar dos elementos culturais daquela década em seu novo registro audiovisual? Pois o clipe de “Time Will Tell” encontra nas breguices e nas danças características dos anos oitenta uma amarração perfeita ao disco a qual pertence.

Sampha – Happens

Sampha já está de volta à seção “Clipes & Singles”. Lançada junto à versão do músico para “Too Much”, faixa utilizada pelo canadense Drake em seu último disco, “Happens” mergulha em um cenário amargo e confessional, potencializando a característica emotiva da qual o músico não tem se desgarrado. Contemplando o cenário proposto pela canção, o vídeo pinta com cores tímidas a atmosfera sofrida proposta por Sampha.

Phoneix – Chloroform

“Bankrupt!”, o último disco dos franceses do Phoenix, pode até não ter correspondido às expectativas, mas como não se apaixonar pelo clipe de “Chloroform”? Dirigido por Sophia Coppola, esposa do vocalista Thomas Mars, o vídeo consegue capturar com perfeição os toques sutis e introspectivos da canção, mostrando fãs emocionadas com uma apresentação ao-vivo da banda.

Cage The Elephant – Come a Little Closer

Muitas cores, drogas e psicodelismo formam as bases do novo clipe da banda Cage The Elephant, “Come a Little Closer”. Mergulhando com tudo nos alicerces que constroem o seu trabalho, os integrantes da banda passeiam divertidamente por um universo paralelo. Vale ressaltar que eles estarão novamente no Brasil no festival Lollapalooza, onde já haviam tocado em 2012.

Wado – Infinitas Possibilidades

O novo single de Wado tem um título auto-explicativo: com um sintetizador instável, o músico volta a encarar o cenário experimental que construiu a maior parte de sua carreira. De fato, ele parece querer abandonar (pelo menos por enquanto) o cenário calmo de “Vazio Tropical”, seu último disco, para agradar seus seguidores, ansiosos por uma continuação de “Samba 808”, e menos simpáticos à MPB de Marcelo Camelo exposta pelo último disco do catarinense radicado em Alagoas.

SZA – Ice Moon

Um dos bons novos nomes do R&B, a cantora SZA não poupou de elementos etéreos o seu novo clipe, gravado para a canção “Ice Moon”. Permeada por arranjos sutis e um cenário colorido e florido, a cantora mergulha nos elementos hipnotizantes de seu single, transformando a interação entre sons e imagens em um turbilhão emotivo digno de grandes registros audiovisuais.

Marcelo Perdido – Lenhador

Quem pensou que sem a companhia de Rodrigo Caldas o vocalista da banda Hidrocor ficaria perdido, enganou-se redondamente. Marcelo Perdido está produzindo seu primeiro álbum em carreira solo, cujo lançamento está previsto para 2014. Mergulhando nos elementos sutis de sua antiga banda, Perdido constrói, no vídeo de “Lenhador”, um número sensível que agrada o ouvinte já na primeira audição, e sem nenhuma dificuldade.

Lily Allen – Hard Out Here

O que Lily Allen fará para voltar aos palcos? Segundo ela mesma, o primeiro passo é uma lipoaspiração. Depois, contar com coreografias extremamente provocantes dançadas por garotas atraentes. Apelando de vez, uma propaganda de carro de luxo. Será que, enfim, a cantora inglesa enlouqueceu de vez? Não, não é esse o caso… Seu mais novo clipe, “Hard Out Here”, é uma sátira do próprio retorno da cantora. Divertida como sempre, Allen brinca com sua própria imagem no primeiro single lançado para seu próximo álbum, “It’s Lily, Bitch!”, previsto para 2014.

2013: Gratitude – Phillip Long

Gratitude

Por: Renan Pereira

Phillip Long tem apresentado um visível esforço para amadurecer rapidamente. São dois anos de carreira em estúdio, e uma discografia que já se mostra volumosa: um conjunto de seis álbuns, sendo quatro lançados no ano passado. Com isso, o músico paulista, natural de Araras, vem conseguindo atrair um bom número de audições através de um volumoso catálogo de composições; canções deliciosamente simples, intimistas e bucólicas, perfazendo arranjos acolhedores que atraem a partir de concepções diretamente ligadas ao folk de décadas passadas.

O grande risco que se corre ao lançar seguidos discos em um curto intervalo, porém, é não dar o tempo necessário para que as ideias amadureçam. Talvez demasiadamente ansioso, Long primou pela quantidade, entregando ao público trabalhos bons, é verdade, mas de uma crueza gritante; claramente, seu discos poderiam soar muito mais atraentes se melhor amadurecidos. Agora, felizmente, o músico parece ter se convencido de que chegou o momento para consolidar de uma vez por todas a sua base musical, apresentando-nos o que é, até agora, seu disco mais maduro e consistente. “Gratitude” parece ser um marco na obra artística do compositor, e embora se agarre ao mesmo conceito dos trabalhos anteriores, diferencia-se por soar mais refinado, melhor trabalhado.

A música de Phillip Long é serena, e se prende com tudo aos detalhes, procurando abordar constantemente o íntimo de seu criador. “Gratitude”, como não poderia deixar de ser, transparece-se confessional a partir de uma forte carga de emoções. É como se o ouvinte fosse convidado a visitar a casa do músico, e com ele partilhar o cenário íntimo e bucólico expressado pela capa do disco; um proveitoso passeio, em que as confissões de Long mostram-se tão doces e singelas quanto o filhotinho aos seus pés do compositor.

Através do dedilhado melódico e dos versos fáceis da primeira faixa, “Grace”, Long nos delicia com a primeira das brandas concepções de seu disco; uma canção que prima pela calmaria de seus arranjos, se aproximando a passos largos do trabalho feito por Nick Drake no clássico “Pink Moon”. É incrível como as composições de Long são para ser sentidas, e não simplesmente ouvidas: sua música é feita para atingir a alma, e cumpre com louvor o seu papel. A segunda, “You Broght Me Here”, é parte natural desse conjunto emotivo, apresentando-nos um lado mais melancólico do compositor, permeada por um grande acerto melódico.

“Woke Up This Morning” parece ser, de forma até proposital, o tema perfeito para o amanhecer em de um dia ameno e ensolarado, disputando o espaço sonoro com o feliz canto dos pássaros no início da primavera. Flertando com o clima bucólico da zona rural, Phillip Long vai naturalmente recordando-nos da música praticada por nomes de destaque da atualidade, como Bon Iver e Fleet Foxes, ou até mesmo por monstros sagrados, como Neil Young e David Crosby; isso acaba tornando-se visível como nunca na quarta faixa, “While the Flowers Grow in May”, na qual participa o baixista Scott Thunes, que trabalhou com Frank Zappa nos anos oitenta. Sim, a música de Long é repleta de influências, mas é ao mesmo tempo tão íntima que cria para si um universo único – e, por consequência, um lugar de destaque no cenário atual da música brasileira.

Ainda nessa consideração de dualidades, “Once (In the Name of Love)” chega para atingir com tudo os ouvintes, embora sua construção lírica pareça distante em um primeiro momento… Long compõe sobre si, sobre seu mundo particular, mas nada o impede de alcançar o núcleo do planeta de cada um. Certamente, o músico acerta ao fazer de seu íntimo um bem universal. As faixas de “Gratitude” também são muito bem amarradas, e “Road to You”, apesar de ser o único número puramente instrumental do disco, mantém o conceito do álbum ao se aproximar das demais composições.

“Far on a Distant Field” volta a contar com a participação de Scott Thunes, e assim como a seguinte, “Mysterious Ways”, continua a deliciar o ouvinte com uma música simples, acústica, primaveril e singela; concepções agarradas, que pouco se alteram, e não fazem uso do direito de se aventurar. É até mesmo impressionante a forma com que Long consegue nos prender mesmo com uma base sonora antiga, já batida por tantos outros nomes: até o desfecho do disco, o mesmo conceito musical e a mesma qualidade de convencer. O que o ararense nos propõe não é o encantamento pelo inédito, mas prender-se pelo sentimento.

E quem disse que um disco intimista não pode ser colaborativo? Até mesmo o já citado Nick Drake, provavelmente o compositor mais confessional de todos os tempos, contou com a ajuda dos membros do Fairport Convention durante boa parte da carreira. Nos aproximando mais da atualidade e de nossa geografia, temos a curitibana Ana Larousse, que contou com a colaboração de seus amigos para a construção do pessoal “Tudo Começou Aqui”. Da mesma forma faz Phillip Long, que conta com a participação do maranhense Phill Veras na bonita “Want Someone to Remember”(que contém alguns versos em português), e de Laura Wrona na hermética “Trapezist”.

“Ballad of Tom” é a última faixa, fazendo uma homenagem aos dois maiores “Toms” da música brasileira: Tom Zé e Tom Jobim. Ambos já tiveram canções de sua autoria musicando propagandas do mais famoso líquido preto, o que levou a massivos ataques do público e da crítica, e a composição de Long faz referência a estes fatos curiosos. Mais “alegrinha”, a canção se aproxima das composições mais corriqueiras da música folk atual, mas nem por isso diminui a qualidade do desfecho deste disco altamente constante.

Ótimo compositor, Phillip Long também acaba se destacando como um grande instrumentista. Seu dedilhado é simples, porém encantador, criando através da sequência de notas musicais verdadeiras atmosferas sonoras: arranjos completos apesar da simples interação acústica entre os instrumentos. Tal construção enfatiza o valor dos detalhes ao disco, sendo que cada nota, cada verso, cada vocalização, tem papel fundamental para a caracterização do trabalho.

Mas o álbum é movido, como já dito várias vezes neste texto, pelas experiências pessoais de Phillip Long. Através de sua intimidade, o compositor acabou construindo um ponto de afirmação de sua carreira, consolidando-se como um nome importante da cena atual e criando para si um espaço próprio: longe de qualquer concepção atual da música brasileira, seja a nova MPB, o rock alternativo ou até mesmo o pop descartável, Long mostra-se como uma alternativa para quem procura algo mais sereno, um respiro em meio a tanta ânsia por novidade. Um espaço sincero e coeso, em que o ouvinte pode relaxar ao experimentar as emoções do compositor, deixando as preocupações mundanas de lado para mergulhar nos mais íntimos anseios humanos.

NOTA: 8,2

Track List:

01. Grace [03:14]

02. You Brought Me Here [03:37]

03. Woke Up This Morning [02:40]

04. While the Flowers Grow in May [03:22]

05. Once (In the Name of Love) [03:43]

06. Road to You [01:36]

07. Far on a Distant Field [04:20]

08. Mysterious Ways [03:21]

09. Want Someone to Remeber [03:25]

10. Trapezist [03:44]

11. Ballad of Tom [03:01]