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Live Sessions: Edição 01

O título dessa nova seção do blog é auto-explicativo: se trata de uma compilação de performances ao-vivo. Nessa primeira edição, a Live Sessions explora as melhores performances desse último mês de janeiro, trazendo uma variedade de músicos, de variados estilos e de várias formas. O destaque óbvio fica para as performances que ocorreram na última edição do Grammy.

Daft Punk, Pharrell Williams, Nile Rodgers e Stevie Wonder no Grammy

Uma apresentação histórica. Na mesma noite em que o Daft Punk recebeu o prêmio de álbum do ano da academia, uma performance brilhante de “Get Lucky” colocou todo mundo na dança. Sobraram ainda espaços para trechos de canções de Nile Rodgers e Stevie Wonder.

Metallica e Lang Lang no Grammy

Outra performance épica do Grammy ocorreu quando o Metallica decidiu se unir ao pianista Lang Lang para apresentar o clássico “One”. Conseguindo alcançar o teor misterioso da canção, o pianista não decepcionou nessa performance curiosa, que apenas o fãs mais puristas (e chatos) não curtiram.

Lorde no Grammy

Outra artista que não poderia ficar de fora, de jeito nenhum, da maior premiação da música, é a neozelandesa Lorde. Grande destaque no ano de 2013, a cantora apresentou no prêmio a canção “Royals”, através da qual ela se tornou um grande sucesso mundial. Em uma performance que chocou os que ainda não a conheciam, a jovem usou um clima misterioso como pano de fundo para sua inusual coreografia.

Beyoncé e Jay-Z no Grammy

Mais um pouquinho da última edição do Grammy… Dessa vez, com o casal mais famoso da música mundial. Em parceria com o maridão Jay-Z, Beyoncé apresentou ao público a primeira performance ao-vivo de “Drunk In Love”, grande single do último disco da cantora, auto-intitulado, lançado no último mês de dezembro.

Mallu Magalhães no X Factor Português

Aproveitando que está em turnê por Portugal, Mallu Magalhães fez uma participação especial no programa X Factor, tocando a música “A Velha e a Louca”, faixa de seu último álbum, o aclamado “Pitanga”, de 2012, que calou a boca de muita gente chata por aí.

Arctic Monkeys no David Letterman

Ainda promovendo o bem recebido “AM”, os ingleses do Arctic Monkeys participaram do programa de David Letterman, e lá se apresentaram com a viciante “Do I Wanna Know?”, canção que é um dos grandes destaques do novo registro. Mais uma prova de que, definitivamente, o conjunto conquistou os gostos do público norte-americano.

Arcade Fire no Triple J

Continuando de forma certeira a promover o ótimo “Reflektor”, que figurou em segundo lugar na nossa lista dos 30 melhores álbuns internacionais de 2013, os canadenses do Arcade Fire tocaram algumas canções com novos arranjos no Triple J. O destaque fica para a versão “acústica” de “Normal Person”.

Vanguart Ao Vivo no Jardim de Inverno

O projeto “Ao Vivo no Jardim de Inverno”, do apresentador (e também cantor) Chay Suede, é uma das coisas mais legais que apareceram nos últimos meses quanto à música alternativa brasileira. Convidando amigos para tocar no jardim de inverno de sua casa, Suede aderiu a uma ideia simples, mas bastante assertiva, principalmente para aquele público que não consegue ver o show das bandas (ou músicos) que gosta e nem consegue encontrar vídeos de performances ao-vivo desses músicos em boa resolução de som e imagem no YouTube. Convidados a gravar para o canal, a galera do Vanguart surpreendeu ao tocar nada mais, nada menos, que uma canção do grupo Molejo.

Stephen Malkmus and The Jicks no Ce Soir (Ou Jamais!)

Promovendo a todo vapor seu último disco, “Wig Out at Jagbags”, Stephen Malkmus e seus companheiros da banda The Jicks se apresentaram na TV francesa, mais precisamente no programa “Ce Soir (Ou Jamais!). Aproveitando o bom resultado do último disco, eles resolveram encher a apresentação de músicas do novo trabalho, entre elas “Lariat”.

Emicida e MC Guimé no Caldeirão do Huck

Após um ano premiado, o rapper Emicida começa o ano de 2014 em alta na mídia. Após participar do programa “Altas Horas”, o músico desembarcou no programa de Luciano Huck, em parceria com MC Guimé, para apresentar ao-vivo a música “Gueto”, uma das faixas do aclamado disco “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”.

Clipes & Singles: Semana 50/2013

Clipes & Singles

Pelo menos musicalmente, 2013 e 2014 se fundem na mais nova edição da nossa seção Clipes & Singles. Na segunda semana de dezembro, canções referentes a trabalhos recentes e futuros se misturam em uma seleção heterogênea, mas fortemente ligada à música alternativa. Quer provas de que o indie está ditando as ordens do mundo musical? Acompanhe os vídeos abaixo e divirta-se em uma viagem por diferentes vertentes da atualidade.

Apanhador Só – Mordido

Antes que você conte outra, devo afirmar que o último disco dos gaúchos da banda Apanhador Só está não apenas entre os melhores do ano, mas entre os maiores clássicos do indie rock brasileiro. Portanto, alguma música do disco merecia um registro audiovisual, não? Comprovando que ao-vivo as coisas ficam ainda mais quentes, o clip de “Mordido”, canção que abre o disco “Antes que Tu Conte Outra”, mostra que mesmo fora do estúdio os caras conseguem captar todos os efeitos que constroem a estrutura torta (e inventiva) de sua base musical.

St. Vincent – Birth in Reverse

O ruído tomou conta da música de St. Vincent. Isso pelo menos é o que mostra “Birth in Reverse”, trazendo um conceito mais próximo do rock do que da música pop. Primeira faixa disponibilizada do futuro álbum de Annie Clark, a ser lançado ainda no primeiro semestre de 2014, a canção faz o ouvinte se deparar com um show de guitarras, amparadas em uma estrutura praticamente matemática.

Zula – Twin Loss

Cenários pouco famosos de Nova York e uma movimentação constante formam o clipe de “Twin Loss”, canção de destaque dos novatos do Zula. Faixa integrante do ótimo álbum “This Hopeful”, lançado em novembro, a canção passeia por elementos psicodélicos enquanto encara uma sonoridade tranquila, pautada no rock alternativo dos anos noventa, mas nem por isso pouco colorida, bordando em imagens um registro propositalmente atmosférico.

Kaiser Chiefs – Misery Company

Parece que o Kaiser Chiefs realmente perdeu o fio da meada. Acompanhando o resultado ruim dos trabalhos mais recentes do grupo, “Misery Company”, primeira faixa liberada do futuro disco “Education, Education, Education & War”, se agarra ao conceito sempre bem-humorado e irônico, tradicional das canções do quinteto, mas se perde em uma sonoridade pobre, em que nem o ritmo consegue soar interessante. Agora é esperar, e torcer para que as demais canções do álbum não sejam tão fracas quanto o primeiro single.

Young Galaxy – Fever

Brincando com o poder da nossa visão, o grupo Young Galaxy constrói, com as bases sonoras de “Fever”, mais um clipe relativo ao disco “Ultramarine”. Refletindo o alcance de nossos olhos, as cores e os cenários que podem (ou não) ser visualizados, o vídeo se agarra aos detalhes para dar imagens certeiras a uma canção naturalmente psicodélica.

Pixies – Another Toe in the Ocean

Embora o rápido “EP1” não tenha sido muito bem recebido pela crítica, a banda Pixies continua se esforçando para a promoção do registro. Nova música do grupo a ganhar imagens, “Another Toe in the Ocean” é retratada em animação, trazendo como protagonista Black Francis, que primeiro participa de uma corrida maluca, depois é envolvido em uma explosão de doces, se mete no meio de uma operação policial para deter um bebê gigante e, no fim, é engolido por uma baleia gigante dentro de um copo de suco. Se a música não nos remete aos gloriosos tempos da banda, o clipe pelo menos é bem divertido.

Lorde – No Better

Lorde não deve abandonar os holofotes muito cedo. Seja com a já clássica “Royals” ou com o belo conjunto de canções do disco “Pure Heroin”, a neozelandesa vem se tornando uma nova estrela da música pop. Embora não esteja presente no bem-sucedido álbum de estreia da artista, “No Better” é uma sequência de toda a atmosfera sonora plantada por Lorde, encontrando nas batidas de hip-hop e em um teor que, apesar de pop, não deixa de experimentar, uma atmosfera totalmente assertiva. Se 2013 foi um grande ano para Lorde, 2014 promete ser igualmente glorioso.

Maximo Park – Leave This Island

Com a soturna “Leave This Island”, o Maximo Park apresenta ao público mais um capítulo de seu futuro disco “Too Much Information”, a ser lançado no início de fevereiro. Mais melódica do que dançante, a música ganha nas imagens repletas de simbolismo, que discutem a velhice e a passagem de tempo, um significado mais do que especial, que alcança sem muita dificuldade o conceito suave proposto pela canção.

Rashid – Bate e Gol

Se em “Confundindo Sábios” Rashid explorou diversas nuances do cotidiano popular, não poderia faltar ao disco alguma música falando sobre futebol, uma das maiores paixões do brasileiro. Embora a canção embarque em metáforas, um jogo de futebol entre duas equipes de rappers foi gravado para a canção “Bate e Gol”. Nomes como Emicida, Rael, Kamau e, é claro, o próprio Rashid, disputam uma pelada entre amigos, em que o juiz é interpretado pelo ator Milhem Cortaz, o policial Fábio Barbosa de “Tropa de Elite”.

Stephen Malkmus & The Jicks – Cinnamon and Lesbians

E se um clipe seguir literalmente a letra de uma canção conceitualmente lisérgica, como “Cinnamon and Lesbians”? O resultado sem dúvida é divertido. Mostrando mais uma prévia de “Wig Out at Jagbags”, álbum de lançamento previsto para o início de janeiro, o veterano Stephen Malkmus e a banda The Jicks dão imagens literais a seu bem-humorado novo single, deixando, mais uma vez, bem clara a proposta noventista que será carregada pelo futuro disco.

Clipes & Singles: Semana 46/2013

Clipes & Singles

Sim, às vezes ela até parece que não virá, mas independente de qual semana se trata, ela sempre aparece. Quem é? A nossa seção “Clipes & Singles”, é claro. Impulsionados pelo retorno da britânica Lily Allen, surgimos com um novo resumo das canções da semana, compartilhadas, dessa vez, entre os dias 11 e 15 de novembro de 2013.

Phillip Long – End of the Line

Fim da linha? Que nada! Phillip Long continua sua produtiva carreira musical a todo vapor. Prestes a lançar o seu sétimo registro em estúdio, o músico paulista não cansa de apresentar novas texturas musicais a seu público que cada vez cresce mais. Faixa do disco “Seven”, “End of the Line” aumenta as possibilidades sonoras propostas pelo compositor, sempre íntimo da música folk e do country rock, mas claramente disposto a evoluir.

Stephen Malkmus & The Jicks – Lariat

Stephen Malkmus é um cara que sempre tem cartas na manga. Um pouco de sua imensa originalidade pode ser observada em seu novo clipe junto ao The Jicks, “Lariat”. Envolvida em arranjos simples, refletindo o “indie rock clássico” que o músico vem construindo a algum tempo, a canção encontra novos ouvidos em uma primeira experiência. Refletindo as emoções de uma primeira audição, a canção deve (e não à toa) conquistar quem a ouve pela primeira vez.

Blood Orange – Time Will Tell

Eis que, no finzinho do ano, surge um dos mais surpreendentes discos de 2013. Afinal, como não abrir o bocão com a admiração certa ao ouvir “Cupid Deluxe” e sua verdadeira ode à música negra norte-americana? Passeando por nomes como Michael Jackson, Prince e Lionel Ritche, o produtor acabou fazendo de seu novo registro uma audição imperdível. E com tantas inspirações oitentistas, por que também não abusar dos elementos culturais daquela década em seu novo registro audiovisual? Pois o clipe de “Time Will Tell” encontra nas breguices e nas danças características dos anos oitenta uma amarração perfeita ao disco a qual pertence.

Sampha – Happens

Sampha já está de volta à seção “Clipes & Singles”. Lançada junto à versão do músico para “Too Much”, faixa utilizada pelo canadense Drake em seu último disco, “Happens” mergulha em um cenário amargo e confessional, potencializando a característica emotiva da qual o músico não tem se desgarrado. Contemplando o cenário proposto pela canção, o vídeo pinta com cores tímidas a atmosfera sofrida proposta por Sampha.

Phoneix – Chloroform

“Bankrupt!”, o último disco dos franceses do Phoenix, pode até não ter correspondido às expectativas, mas como não se apaixonar pelo clipe de “Chloroform”? Dirigido por Sophia Coppola, esposa do vocalista Thomas Mars, o vídeo consegue capturar com perfeição os toques sutis e introspectivos da canção, mostrando fãs emocionadas com uma apresentação ao-vivo da banda.

Cage The Elephant – Come a Little Closer

Muitas cores, drogas e psicodelismo formam as bases do novo clipe da banda Cage The Elephant, “Come a Little Closer”. Mergulhando com tudo nos alicerces que constroem o seu trabalho, os integrantes da banda passeiam divertidamente por um universo paralelo. Vale ressaltar que eles estarão novamente no Brasil no festival Lollapalooza, onde já haviam tocado em 2012.

Wado – Infinitas Possibilidades

O novo single de Wado tem um título auto-explicativo: com um sintetizador instável, o músico volta a encarar o cenário experimental que construiu a maior parte de sua carreira. De fato, ele parece querer abandonar (pelo menos por enquanto) o cenário calmo de “Vazio Tropical”, seu último disco, para agradar seus seguidores, ansiosos por uma continuação de “Samba 808”, e menos simpáticos à MPB de Marcelo Camelo exposta pelo último disco do catarinense radicado em Alagoas.

SZA – Ice Moon

Um dos bons novos nomes do R&B, a cantora SZA não poupou de elementos etéreos o seu novo clipe, gravado para a canção “Ice Moon”. Permeada por arranjos sutis e um cenário colorido e florido, a cantora mergulha nos elementos hipnotizantes de seu single, transformando a interação entre sons e imagens em um turbilhão emotivo digno de grandes registros audiovisuais.

Marcelo Perdido – Lenhador

Quem pensou que sem a companhia de Rodrigo Caldas o vocalista da banda Hidrocor ficaria perdido, enganou-se redondamente. Marcelo Perdido está produzindo seu primeiro álbum em carreira solo, cujo lançamento está previsto para 2014. Mergulhando nos elementos sutis de sua antiga banda, Perdido constrói, no vídeo de “Lenhador”, um número sensível que agrada o ouvinte já na primeira audição, e sem nenhuma dificuldade.

Lily Allen – Hard Out Here

O que Lily Allen fará para voltar aos palcos? Segundo ela mesma, o primeiro passo é uma lipoaspiração. Depois, contar com coreografias extremamente provocantes dançadas por garotas atraentes. Apelando de vez, uma propaganda de carro de luxo. Será que, enfim, a cantora inglesa enlouqueceu de vez? Não, não é esse o caso… Seu mais novo clipe, “Hard Out Here”, é uma sátira do próprio retorno da cantora. Divertida como sempre, Allen brinca com sua própria imagem no primeiro single lançado para seu próximo álbum, “It’s Lily, Bitch!”, previsto para 2014.

1992: Slanted and Enchanted – Pavement

Slanted and Enchanted

Por: Renan Pereira

Com guitarras sujas, uma produção barata e canções extremamente divertidas, os californianos do Pavement criaram um dos registros mais influentes dos anos noventa – e logo em seu trabalho de estreia. “Slanted and Enchanted”, apesar de ser detentor de uma sonoridade que, em uma primeira abordagem, parece ter sido “jogada” sem maiores cuidados, acabou apresentando um dos mais excitantes ambientes sonoros daqueles anos. É verdade, porém, que não é uma audição muito fácil para quem não conhece a banda, ou até mesmo só ouviu “Crooked Rain, Crooked Rain”, disco mais conhecido dos caras…

Na realidade, à primeira vista, nem dá pra entender muito bem o porquê do álbum ter se tornado um clássico. Belas melodias, riffs impregnantes? Sim, eles estão aqui, mas inúmeros registros durante a história da música popular soaram lindos, maravilhosos, e nem por isso entraram para a história. Pois bem, “Slanted and Enchanted” passa longe da “magnificência sonora”, suja terrenos polidos do início ao fim, e aí está justamente o acerto que o elevou à clássico. Ainda não entendeu? É normal, vamos com calma… É provável que, com meia-dúzia de audições atentas (porém despreocupadas, sem procurar evidências épicas), o ouvinte já esteja a par dos motivos que levaram a estreia do Pavement a se tornar um lugar-comum no universo cult.

A banda formou-se nos últimos suspiros dos anos oitenta, visivelmente inspirada nos grupos que formavam, naquela época, a nata do rock alternativo underground, como Sonic Youth, The Fall e The Replacements. Do estúdio caseiro do baterista Gary Young ecoaram os primeiros ruídos do Pavement, sendo que, posteriormente, as baquetas acabaram sendo destinadas a Jason Turner; mas os desentendimentos constantes do novo baterista com o líder do grupo, Stephen Malkmus, acabaram levando ao retorno de Young, que, no fim das contas, acabou contribuindo de forma gigantesca para a construção da sonoridade que envolveria o primeiro registro do conjunto.

Gary Young era doidão. Durante a turnê do primeiro álbum, não era raro vê-lo distribuindo para o público, na entrada dos locais de show, “brindes” como couve e purê de batatas, caindo de bêbado em cima do próprio equipamento ou saindo correndo pelo palco enquanto a banda tocava. Não à toa, seu comportamento excêntrico acabou chamando a atenção, mas o resultado final não poderia ser diferente: no fim da turnê, acabou sendo substituído por Steve West. Isso acarretou em um upgrade de seriedade à banda, que em seu segundo álbum, mostraria-se bem mais comportada; mas isso é assunto para outra oportunidade, pois agora é a “bagunça” de “Slanted and Enchanted” que dá as caras por aqui.

O álbum inicia-se com a impecável “Summer Babe (Winter Version)”, postando-se memorável e imponente do início ao fim, já demostrando um fantástico acerto melódico e uma produção incomum para a época, soando como se a gravação tivesse sido concebida em uma garagem qualquer; não é por menos que Stephen Malkmus é considerado um dos inovadores da música lo-fi. Na segunda faixa, dividida por “Trigger Cut” e “Wounded-Kite at :17”, a guitarra de Malkmus continua a se aventurar brilhantemente por um cenário caseiro, totalmente noventista, perfazendo instrumentais poderosos em bases melódicas excelentes. Na potente “No Life Singed Her”, uma sujeira que em nada fica devendo ao The Jesus and Mary Chain faz o álbum continuar a soar surpreendente, deixando o ouvinte boquiaberto ao apresentar uma das bases sonoras mais dinâmicas e genuínas de sua época.

É impressionante como Stephen Malkmus e seus companheiros arquitetaram, em cada momento do disco, uma nova sonoridade, que embora embalada pelo cenário pós-punk da segunda metade dos anos oitenta, conseguiu constantemente soar inédita. Considerado por muitos como um importantíssimo marco do rock, “Slanted and Enchanted” finalizou a edificação das bases da música lo-fi, e elevou o indie rock a um nível não visto anteriormente, mostrando para o público recém chegado ao rock alternativo que nem só de grunge vivia o underground. A sucessão de faixas do álbum, enfim, fez nascer uma nova ideia, e inspirou uma grande leva de novos artistas; sem “Slanted and Enchanted”, é provável que bandas como Neutral Milk Hotel e Modest Mouse não tivessem a oportunidade de lançar, no final dos anos noventa, os maiores clássicos da música caseira.

A quarta, “In the Mouth a Desert”, é uma clara absorção dos sentimentos emitidos pelo lendário “Loveless”, do My Bloody Valentine, confrontando beleza e sujeira a todo momento; o início calmo, com riffs tradicionais do indie rock, só serve para enganar brevemente o público, que acabará experimentando, na verdade, a audição de mais uma ótima canção de potência inegável. “Conduit for Sale!” é, em quase sua totalidade, apenas falada, e quando isso não acontece, é um vocal berrado que se impregna em nossos ouvidos, espalhando sujeira sem moderação em uma atmosfera totalmente alternativa. Mas sem engana muito quem pensa que “Slanted and Enchanted” é apenas riffs sujos e músicas pesadas: a qualidade de arranjos demonstrada pelo Pavement em seu debut poucas vezes foi alcançada dentro do indie rock.

Seguem, então, as breves “Zürich Is Stained” e “Chesley’s Little Wrists”, ambas com menos de dois minutos, durando pouco mas deixando suas marcas dentro do registro; a primeira, por apresentar uma sonoridade semi-acústica que parece já anunciar o caminho que a banda tomaria em seu próximo álbum, e a segunda por se caracterizar como o momento mais “alucinógeno” do disco, em que os riffs percorrem um terreno ondulatório na mais chapada concepção sonora de “Slanted and Enchanted”. “Loretta’s Scars” contém um ritmo pulsante e, pra variar, mais uma grande melodia, se portando de forma magistral em arranjos atmosféricos. “Here” é acústica, calma, um raro número sereno do álbum, escancarando que a banda podia ser brilhante não apenas nas abordagens cruas, e enfatizando, enfim, o dinamismo do trabalho. Além de tudo o que o Pavement criou em seu disco parece ter sido lançado na hora exata, oferecendo grandes novidades para aquela explosão alternativa do início da década de noventa, tudo o que a banda fez foi bem feito, não deixando dúvidas sobre a grande consistência de sua estreia.

A décima é “Two States”, uma música que, casando perfeitamente ritmo e melodia (sobre mais uma base suja), mostra que até em números mais dançantes o Pavement poderia ser competente. Já “Perfume-V” é nervosa, impregnante, um desafio para ouvidos despreparados, alocando-se em uma cenário hermético, e mais uma vez lembrando o noise-pop que o The Jesus and Mary Chain havia criado, lá na metade dos anos oitenta, em seu igualmente marcante debut, o clássico “Psychocandy”. Talvez inspirado pelos riffs atmosféricos que Kevin Shields disparava naquela época, Stephen Malkmus decidiu, felizmente, aventurar-se constantemente; e na que é, provavelmente, a mais excitante dessas aventuras, sua guitarra constrói os psicodélicos arranjos da fenomenal “Fame Throwa”.

Outra qualidade marcante de “Slanted and Enchanted” é a sua capacidade de surpreender do início ao fim. Tanto que o disco, mesmo não sendo dos mais curtos, tendo catorze faixas, consegue prender o ouvinte da introdução da primeira canção ao seu último barulho, sempre trazendo alguma novidade. Tanto que a é penúltima faixa, “Jackals, False Grails: The Lonesome Era”, que apresenta os mais incríveis arranjos do álbum, podendo até mesmo ser comparada, tanto em complexidade quanto no conceito, à famigerada “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles. A última, “Our Singer”, é uma corrente, que parece amarrar o desfecho de “Slanted and Enchanted” ao início de “Crooked Rain, Crooked Rain”, que seria lançado dois anos mais tarde.

Inovador, surpreendente, consistente… “Slanted and Enchanted” pode ser qualificado, com certeza, com todo os adjetivos já colocados neste texto. Mas talvez o mais legal de tudo é ver como o Pavement conseguiu um grande resultado sem deixar a diversão de lado. “Slanted and Enchanted” é, enfim, um disco divertido, que não se esquece de que a música popular deve ser a união da arte com o entretenimento… Tudo soa vívido, sincero, fruto de um trabalho honesto e que, devido à sua grande qualidade, acabou marcando a sua época. Ainda restam dúvidas de que este é um grande clássico do rock?

NOTA: 9,8

Track List: (todas as faixas compostas por Stephen Malkmus, exceto a 10)

01. Summer Babe (Winter Version) [03:16]

02. Trigger Cut/Wounded-Kite at :17 [03:16]

03. No Life Singed Her [02:09]

04. In the Mouth a Desert [03:52]

05. Conduit for Sale! [02:52]

06. Zürich Is Stained [01:41]

07. Chesley’s Little Wrists [01:16]

08. Loretta’s Scars [02:55]

09. Here [03:56]

10. Two States (Scott Kannberg) [01:47]

11. Perfume-V [02:09]

12. Fame Throwa [03:22]

13. Jackals, False Grails: The Lonesome Era [03:21]

14. Our Singer [03:09]