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2012: Red – Taylor Swift

Por: Renan Pereira

Dar uma conferida em “Red”, quarto álbum de estúdio da queridinha do pop-country Taylor Swift, é como experimentar sentimentos opostos e ao mesmo tempo próximos, como a espera pelo lado da moeda em um jogo de cara-ou-coroa. “Red” é capaz de sempre transmitir uma dualidade de percepções, mesmo que esteja sempre tratando da mesma aposta da mesma artista. Ao mesmo tempo em que o álbum faz Swift se aventurar por outros caminhos, sacramentando sua evolução, é transmitida a impressão de que nunca Swift havia deixado tantas dúvidas sobre o que sua carreira é ou virá a ser.

De ponto positivo, temos, logo de cara, a grande capacidade comercial do álbum, que vem realmente vendendo horrores; levando em consideração as vendas na primeira semana, ultrapassou os números até de artistas puramente comerciais e no auge da fama, como Lady Gaga e Justin Bieber, sendo, afinal, o álbum mais vendido nos primeiros dias desde “The Eminem Show”, de 2002. Não restam mais dúvidas de como Taylor Swift é famosa e bem-sucedida, deixando de ser a jovenzinha que surpreendeu os Estados Unidos em “Fearless” para se tornar uma das maiores estrelas da música mundial.

Mas, mesmo dentro dos pontos positivos, “Red” é capaz de nos transmitir coisas nem tão positivas assim; o potencial comercial do disco é extremamente forte devido a sua capacidade de atirar para todos os lados, em busca dos mais diferentes públicos. Além da musicalidade tradicional de Swift, temos flertes com um pop mais chiclete, ao melhor estilo Katy Perry, algum pop-rock comparável ao de Sheryl Crow e fugidinhas ao rock alternativo, brindadas pela participação de Gary Lightbody, do Snow Patrol. Ou seja, “Red” é um daqueles álbuns em que qualquer ouvinte, com certeza, vai apreciar alguns momentos, mas nunca o todo da obra.

“State of Grace” é que dá os primeiros acordes, e se caracteriza por ser uma certeira faixa de abertura, tão poderosa quanto a Taylor Swift atual, mas mostrando que as suas performances podem ainda ser tão adoráveis quanto as de outrora; de novidade, há o oferecimento de um maior peso ao instrumental, com um olhar sempre voltado para as tendências atuais da música pop. “Red”, a faixa-título, é outra canção fortemente orientada ao pop, mostrando a mesma Swift de “Fearless”, cantando com as mesmas vocalizações e sobre os mesmo temas, só que com um instrumental mais roqueiro e com uma letra mais grudenta. Como se quisesse gritar para todos, escancarando tudo logo de cara, o início de “Red” tem a clara e bem-sucedida impressão de mostrar que Swift cresceu, é hoje uma mulher feita, uma artista experiente e pronta para encarar o auge do seu sucesso.

“Treacherous” é bem bonita, uma balada tristonha, muito bem construída; aqui cabe uma parabenização aos produtores, que fizeram um trabalho praticamente perfeito de mixagem, dando ao resultado final do disco uma maravilhosa sonorização, com instrumentos vívidos, onde tudo está direitinho e no seu devido lugar (com o volume ideal, na frequência ideal, etc.). A quarta faixa, “I Knew You Were the Trouble” é, porém, o primeiro momento estranho do álbum; com uma estrutura simples demais, fraquinha mesmo, exagera nos flertes com o pop atual, sendo nada a mais do que algum single dessas pop-stars atuais com a voz de Swift – algo que, definitivamente, não combina e não agrada. Mas “All Too Well” trabalha muito bem para reparar os estragos causados pela faixa anterior, nos trazendo Taylor Swift em um momento genuíno; pode não ser uma aventura em nada, sendo basicamente o que ela fez nos últimos tempos, mas é a grande artista em um momento consistente.

Terrivelmente comercial, “22” soa como um teen-pop, com uma linha vocal preguiçosa, muito aquém da capacidade de Swift, e com uma letra pobre e grudenta, que a caracterizam como uma forte candidata ao prêmio de pior música de toda a carreira da cantora. Engraçado, porque logo depois “Red” nos brinda com a belíssima “I Almost Do”, um pop-rock impecável, com uma instrumentação semi-acústica fantástica, em uma grande celebração do grande potencial de Swift, tanto como cantora quanto como compositora. Provavelmente os grandes culpados pelos maiores erros, pelos momentos trágicos do álbum (isentando Swift de uma maior culpa), sejam os suecos Max Martin e Shellback, que co-assinam as faixas 4, 6 e 8 de “Red” – justamente, as piores do disco. Estes indivíduos, que vêm trabalhando com os artistas mais comerciais do mundo (Britney Spears, Adam Lambert, Ke$ha, Christina Aguilera e até a boy-band One Direction), cismaram de querer levar Taylor Swift para o caminho dos fartos dólares, mas da obviedade pop – a fraca “We Are Never Ever Getting Back Together” dá mais provas do quão desastrosa foi a participação destes produtores na carreira da cantora.

Como já em outras oportunidades, se ouve uma grande canção logo após uma tragédia; “Stay Stay Stay” é o que se espera de Swift, uma canção adorável contando com uma adorável performance, sem fugir muito do tradicional pop-country – o ritmo em que, indubitavelmente, ela se sai melhor. Talvez, até por isso, se aventurar demais não seja a melhor ideia para a carreira de Swift, tanto que “Red” nos mostra que, quando ela abandona suas origens, não é a mesma artista segura de outros momentos. “The Last Time”, com participação de Gary Lightbody, é uma música muito boa, bem produzida, melódica, mas que não surpreende em nada; soa como se Swift tivesse aberto um espaço de seu disco para uma canção do Snow Patrol.

“Holy Ground” não está entre as melhores canções já gravadas por Swift, mas é uma faixa válida, uma música que vai crescendo no seu decorrer. Já, “Sad Beautiful Tragic”, é uma das canções que mais positivamente surpreendem no álbum; é uma canção triste, tocante e belíssima, com uma performance vocal que arrebata por sua segurança e sutileza. Outra canção que agrada é “The Lucky One”, um pop-rock calmo e envolvido por um cativante instrumental semi-acústico, em que os discretos riifs de guitarra, mais ao fundo, formam um delicioso tempero.

Outra participação especial em “Red” é a do músico folk inglês Ed Sheeran, ocorrida em “Everything Has Changed”; situada na forte segunda metade do álbum, esta é mais uma canção agradável e certeira, que se caracteriza por ser um dos mais bonitos duetos dos últimos anos. A penúltima, “Starlight”, apesar de ser mais orientada ao pop, não chega a ser tão enjoativa quanto as piores faixas do álbum; não é uma grande canção, mas é uma aposta válida, próxima a algumas coisas já feitas por outras artistas do gênero country-pop. A última canção, “Begin Again”, como se estivesse pedindo para que o ouvinte voltasse a ouvir o disco novamente desde o início,  trabalha perfeitamente para encerrar o álbum de maneira competente, mostrando a Taylor Swift crescida e experiente que todo o disco teve a intenção de mostrar.

As piores canções de “Red” são realmente fracas, comerciais demais, aproveitadoras, mas não chegam a afetar tanto o resultado final do álbum. Até porque, se “Red” fosse um disco daqueles antigos, de vinil, poderia ser dito que contém um Lado A inconsistente, de qualidade duvidosa, mas um praticamente impecável Lado B. Apesar de cometer alguns erros primários, como o de, em alguns momentos arrancar Swift de seu nicho, “Red” é um trabalho que cumpre o seu principal papel: o de mostrar a cantora adentrando definitivamente em seu amadurecimento musical.

Há do que se reclamar, mas é inegável que “Red”, apesar dos pesares, é um bom trabalho. Pode não ser o mais consistente e o mais brilhante da carreira de Swift, mas tem tudo para ser um importantíssimo divisor de águas. Crescendo musicalmente, ela caminha para ser um dos maiores nomes da história dentro do seu gênero, deixando de ser uma princesinha para se tornar uma mulher feita.

Dentro das dualidades de “Red”, o que fica, no fim, é o ponto positivo do crescimento musical de Taylor Swift, e as dúvidas negativas deixadas pelos seus flertes com um pop mais chiclete. Mas o que se espera é que ela não abandone suas origens, pois, grande artista que é, não precisa se rebaixar ao desespero comercial para ser uma estrela.

NOTA: 6,9

Track List:

01. State of Grace (Swift) [04:55]

02. Red (Swift) [03:43]

03. Treacherous (Swift/Wilson) [04:02]

04. I Knew You Were Trouble (Swift/Martin/Shellback) [03:39]

05. All Too Well (Swift/Rose) [05:29]

06. 22 (Swift/Martin/Shellback) [03:52]

07. I Almost Do (Swift) [04:04]

08. We Are Never Ever Getting Back Together (Swift/Martin/Shellback) [03:13]

09. Stay Stay Stay (Swift) [03:55]

10. The Last Time (Swift/Lightbody/Lee) [04:59]

11. Holy Ground (Swift) [03:22]

12. Sad Beautiful Tragic (Swift) [04:44]

13. The Lucky One (Swift) [04:00]

14. Everything Has Changed (Swift/Sheeran) [04:05]

15. Starlight (Swift) [03:40]

16. Begin Again (Swift) [03:57]

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